Mexicanos querem “mover” uma floresta para salvar borboletas-monarca
As mudanças climáticas estão afetando o habitat dos insetos. Mas um grupo de moradores e cientistas quer reverter essa situação.
Ejido La Mesa é uma pequena comunidade localizada na região central do México. É cercada por florestas, e as coisas são bem simples por lá – a eletricidade só chegou nos anos 1980, por exemplo. Mas toda a tranquilidade do vilarejo está sendo ameaçada por um problema: o sumiço das borboletas.
Trata-se das famosas borboletas-monarca, conhecidas pelo seu visual característico e pelas (longas) viagens migratórias que a espécie realiza no outono. Haja asas: elas saem do Canadá e do leste dos Estados Unidos e voam em direção às florestas do México, num percurso que pode chegar a 5 mil quilômetros.
Não à toa, Ejido fica dentro da chamada Reserva da Biosfera Borboleta-monarca, uma área criada para proteger o habitat dessas borboletas durante o inverno, período em que se reproduzem. O local, inclusive, é um patrimônio mundial da Unesco.
Até aqui, tudo bem. O problema está nas mudanças climáticas, que estão fazendo as borboletas sumirem. Pois é: o aumento da temperatura, a irregularidade das estações e dos períodos de chuva e seca estão afetando as árvores coníferas como a oiamel – cujas folhas, em formato de cone, servem de abrigo para os insetos enfrentarem as estações frias e chuvosas.
Movendo florestas
A história das borboletas-monarca foi contada pelo jornal Los Angeles Times, que levantou um dado preocupante: nas últimas duas décadas, o número de monarcas migratórias no México caiu de 1 bilhão para cerca de 100 milhões – uma queda de 90%.
O desaparecimento do animal também já foi percebido em outros lugares. Nos EUA, por exemplo, há um movimento que pede que a espécie entre no Endangered Species Act, uma lei que visa proteger animais seriamente ameaçados de extinção. Herbicidas, desmatamento, ação humana e, principalmente, as mudanças climáticas são os maiores fatores desse problema.
Sem árvores, as borboletas ficam sem um “lar” para se reproduzir no inverno. No México, uma pesquisa de 2012 apontou que as mudanças climáticas irão diminuir em 96% a área das coníferas naquela região até 2090. Além das borboletas, populações serão prejudicadas: o povo de Ejido, por exemplo, depende da extração das árvores e do turismo (por lá, existe o Santuário la Mesa, voltado às borboletas).
Como resolver isso? Simples: mudando a floresta de lugar. Parece estranho, mas é exatamente o que um time de pesquisadores e moradores locais estão fazendo. A ideia é plantar mudas de árvores colina acima, 300 metros mais alto do que a floresta já existente. Em locais de maior altitude, as temperaturas são mais amenas, o que ajudaria, a longo prazo, a regular o ciclo das borboletas.
O projeto é liderado por Francisco Ramirez Cruz e Cuauhtemoc Saenz-Romero. O primeiro é um senhor de 75 anos, morador de Ejido desde criança e um dos líderes locais. Já Romero é um geneticista florestal e um dos autores do estudo de 2012.
Juntos, eles são responsáveis por encontrar áreas adequadas para a “transferência” da floresta. Nos últimos três anos, mais de mil mudas já foram plantadas – trabalho que tem chamado a atenção de outros pesquisadores e universidades interessados em ajudar. Um pequeno, mas importante passo (ou voo).