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Morte de indígenas na América teria causado uma pequena Era do Gelo

A colonização europeia por aqui fez com que 56 milhões de hectares voltassem a virar vegetação, diminuindo o CO2 na atmosfera e deixando a Terra mais gelada

Por Rafael Battaglia
5 fev 2019, 20h10

Alterações climáticas acontecem, em geral, por conta de grandes fenômenos naturais, como erupções vulcânicas ou o movimento de massas de ar. Mas a ciência descobriu que uma das maiores mudanças da história aconteceu, em parte, por conta da ação humana ) – e não estamos falando do aquecimento global.

Um estudo da University College London, no Reino Unido, relaciona a ação dos colonizadores europeus na América durante o século 16 com um período conhecido como “Pequena Era do Gelo”. De acordo com os pesquisadores, o extermínio de indígenas afetou o clima da Terra, diminuindo a temperatura média do planeta no século seguinte.

A pesquisa, publicada na revista Quaternary Science Reviews, mostra que as mortes fizeram com que uma vasta área ficasse inativa e, naturalmente, fosse reflorestada. O crescimento de vegetação em lugares antes usados pelos nativos para moradia e agricultura elevaram os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, causando uma queda de 0,15 oC nos termômetros da Terra.

Como o estudo foi feito?

Para chegar a uma estimativa da área ocupada pelos indígenas, os pesquisadores foram atrás de dados populacionais da época. De acordo com eles, havia na América em torno de 60,5 milhões de habitantes até 1492, quando o explorador Cristóvão Colombo chegou por aqui.

Depois, os experts britânicos foram atrás do número de nativos mortos daquele ano em diante e calcularam que, entre assassinatos e epidemias de doenças (trazidas pelos europeus), a colonização eliminou 90% da população indígena – 54,5 milhões de pessoas. O número não é consenso: há autores que defendem que os europeus mataram 15 milhões. Um valor mais modesto, mas não menos significativo.

Seja como for, o estudo estimou que a área desprotegida de tratamento foi de 56 milhões de hectares, que é aproximadamente o território da França. Todo esse espaço, sem a manutenção dos indígenas, foi “invadida” pela vegetação natural. Essa renovação do solo, de acordo com os pesquisadores, absorveu uma boa quantidade de CO2 (necessário para a fotossíntese), causando uma queda na sua concentração na atmosfera.

A taxa de diminuição foi de 7-10ppm (ou seja, de 7 a 10 partículas de dióxido de carbono para cada um milhão de moléculas no ar). Para se ter uma ideia, atualmente se produz 3 ppm por ano na queima de combustíveis fósseis. 

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Pequena Era de Gelo

A diminuição dos níveis de COfoi detectada pelos cientistas em núcleos de gelo na Antártida. As bolhas de ar encontradas ali revelam a queda na concentração e ainda mostram que processos no solo foram os prováveis responsáveis por isso.

No entanto, esse não é o único motivo pelo qual a Terra deu uma esfriada. Além do CO2, esse período da história também foi marcado por um número incomum de erupções vulcânicas e uma alteração no clima do planeta, que ficou mais frio. Durante a Pequena Era do Gelo, que durou até meados do século 19, a temperatura média chegou a 12oC. Nessa época, o rio Tâmisa, que passa por Londres, chegava a congelar – algo incomum por lá.

Além de contribuir para as pesquisas envolvendo as emissões de dióxido de carbono e o aquecimento global, o estudo também aumenta a discussão sobre a definição de uma nova era geológica.

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O Antropoceno, defendido por alguns acadêmicos, é definido como a era do impacto da ação humana na Terra e começaria por volta dos anos 1950, com o aumento da atividade industrial. Entretanto, o estudo da colonização na América mostra que a humanidade já criava problemas para o clima da Terra muito antes disso.

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