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Mosquitos machos com surdez não conseguem transar

Cientistas criaram insetos surdos em laboratório – e descobriram que a libido deles vai embora junto com a audição.

Por Eduardo Lima
7 nov 2024, 18h00

Para se dar bem no século 21, você pode seguir o esquema tradicional – conhecer alguém e flertar in loco – ou recorrer a uma miríade de aplicativos mágicos: Tinder, Grindr, Bumble, Badoo, Inner Circle… Para os mosquitos, a lista de opções é bem reduzida.

O único jeito de um mosquito macho encontrar uma fêmea para transar é ouvindo o bater das asas da parceira. O Tinder dos mosquitos é a audição. Ou seja: para os mosquitos machos surdos, só resta ser incel.

(Os incels são pessoas – normalmente homens heterossexuais – que se definem como celibatários involuntários, já que não conseguem encontrar parceiras sexuais, apesar de quererem. Os fóruns de discussão online dos incels normalmente são cheios de misoginia e racismo, movidos por ressentimento.)

No caso dos mosquitos, não há ódio contra as fêmeas. Na verdade, eles nem devem perceber elas. Os machos com surdez só são incels porque realmente são celibatários involuntários, já que a surdez se coloca como um impeditivo para o romance baseado em ouvir as fêmeas chegando.

Um estudo da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, nos EUA, criou mosquitos surdos em laboratório para testar a hipótese, que foi comprovada. Os machos surdos não mostravam o menor interesse por acasalar, mesmo que ficassem no mesmo ambiente que as fêmeas por dias. A pesquisa foi publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

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Sintonia de amor

Para criar os mosquitos surdos e acabar com a vida sexual deles, os pesquisadores só precisaram eliminar um gene, o trpVa. Pode parecer só uma curiosidade, mas a ideia dos pesquisadores é pensar em como usar isso para controlar as populações de mosquitos que são vetores de doenças, como o velho conhecido dos brasileiros, Aedes aegypti – responsáveis pela transmissão de doenças como a dengue, a febre chikungunya e o zika vírus.

Quando você vê vários mosquitos juntos perto de água ou postes de luz, é melhor virar a cara e respeitar: você está assistindo a uma suruba. Eles acasalam rapidamente, por só alguns segundos, no ar.

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Esses eventos de acasalamento em massa também são sinfonias (para quem tem ouvidos capazes de ouví-las). As fêmeas batem as asas numa frequência de 500 Hz. Quando os machos ouvem, saem voando e zumbindo numa frequência de 800 Hz, modulando a frequência bem rápido para chamar a atenção das moças mais próximas. Os machos estão sempre procurando parceiras novas, enquanto as fêmeas geralmente param depois de acasalar uma vez.

Foto de comparativo de mosquitos selvagens com o macho mutante surdo.
(Dhananjay Thakur/Reprodução)

Com base em pesquisas anteriores, os cientistas já desconfiavam que a audição tinha um papel importante na vida sexual dos mosquitos, e para demonstrar isso eliminaram o gene do principal canal de audição dos mosquitos. O método Crispr-Cas9, de alteração genética, foi usado para deixar os insetos surdos – e sem libido. Nas fêmeas, o impacto foi mínimo. Nos machos, foi total.

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O som das asas das fêmeas era suficiente para excitar os mosquitos. Se os cientistas tocavam o barulhinho para machos com a audição normal, eles normalmente respondiam com sarradas no ar. Isso mesmo. Eles estavam fazendo o movimento do acasalamento sem nem ter fêmeas por perto. Já os mosquitos surdos não esboçaram reação.

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