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Nenhuma das metas de proteção da natureza foi atingida na última década

As 20 Metas de Aichi foram estabelecidas em 2010 por quase 200 países, com prazo para este ano. Seus resultados, porém, são insuficientes, segundo novo relatório.

Por Bruno Carbinatto
15 set 2020, 19h00

Em 2010, ministros e representantes de quase 200 países se reuniram em Aichi, Japão, para discutir medidas contra a crescente perda de biodiversidade mundial e a destruição de ecossistemas ricos em vida. Dessa conferência saíras as chamadas Metas de Aichi, que envolviam 20 medidas que iam de reduzir a poluição a proteger os recifes de corais para diminuir as altas taxas de extinção causadas pela humanidade. O prazo para o cumprimento dessas metas era 2020 – a segunda tentativa do tipo, já que, entre 2000 e 2010, uma iniciativa parecida havia falhado miseravelmente.

Chegamos em 2020, e, infelizmente, falhamos novamente. Segundo um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), nenhuma das 20 metas de Aichi foi cumprida integralmente, e apenas 6 foram parcialmente atingidas. O documento ressalta que, apesar de algum progresso ter sido feito, habitats inteiros continuaram a desaparecer, diversas espécies foram extintas e várias outras entraram para a lista de ameaçadas por conta da ação antrópica e o aquecimento global continua ameaçando diversos ecossistemas, especialmente os marinhos.

Uma meta que teve pouco progresso foi a que visava reduzir os subsídios governamentais para atividades consideradas negativas para a biodiversidade global, como agricultura extensiva, pesca desenfreada e uso de combustíveis fósseis. Poucos países nos últimos anos fizeram esforços para identificar esses incentivos fiscais, e o relatório calcula que 500 bilhões de dólares foram investidos pelo setor público no mundo nessas atividades.

Outro fator de preocupação são as metas que envolvem a proteção dos oceanos. Uma delas era de reduzir a poluição de plásticos nos mares a níveis que não fossem maléficos para a vida marinha, algo que não ocorreu. Além disso, 60% dos recifes de corais estão ameaçados – o que é preocupante porque esses ambientes concentram grande parte da biodiversidade marinha. A pesca excessiva, a acidificação dos oceanos, o lixo acumulado e a falta de proteção dos ambientes costeiros estão entre os motivos que impediram que melhorias significativas fossem feitas nesta área.

No geral, o tom do relatório é de urgência – seus autores reiteram que serão necessárias mudanças radicais para diminuir a destruição que vemos hoje. “Os sistemas de vida da Terra como um todo estão sendo comprometidos. E quanto mais a humanidade explora a natureza de maneira insustentável, mais prejudicamos nosso próprio bem-estar, nossa segurança e prosperidade”, comentou em comunicado Elizabeth Maruma Mrema, secretária executiva da ONU para a biodiversidade.

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Algumas melhorias foram feitas, no entanto. Uma das metas era aumentar a conscientização sobre a proteção da biodiversidade no mundo, algo que foi parcialmente cumprido. As taxas de desmatamento globais também caíram na última década, embora não tenham atingido a redução visada no acordo. Além disso, 44% das áreas consideradas “vitais” para a natureza global estão agora oficialmente sob proteção governamental – em 2010, esse número era de apenas 29%.

A meta mais próxima de ter sido cumprida integralmente foi a que versa sobre espécies invasoras, ou seja, espécies não nativas introduzidas pelo homem que trazem problemas para os ecossistemas locais ao desestabilizar a cadeia alimentar natural. Na última década, mais de 200 dessas espécies foram eliminadas de ilhas, onde costumam causar o maior estrago. Outro ponto que traz esperança é que 48 espécies foram salvas da extinção por esforços conservacionistas, segundo o relatório.

O documento foi produzido para preparar o mundo para uma nova série de negociações e acordos com o mesmo objetivo, marcados para ocorrer em uma conferência das Nações Unidas na China em 2021 (o evento iria ocorrer em 2020, mas foi adiado por conta da pandemia de coronavírus). De lá, espera-se que novas metas sejam estabelecidas – e os autores ressaltam que haverá menos janela para erros dessa vez.

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