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O avô da lombriga: cientistas descobrem o mais antigo verme parasita conhecido

Fósseis escavados recentemente revelam que seres com formato de minhoca roubavam nutrientes de animais chamados braquiópodes há 513 milhões de anos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 12 jun 2020, 13h55 - Publicado em 12 jun 2020, 13h54

Os mais antigos parasitas conhecidos do mundo provavelmente eram animais marinhos com formato de minhoca que viveram há 512 milhões de anos, segundo uma pesquisa feita por cientistas chinesas e publicada na revista Nature.

Cientistas da Northwest University, na cidade chinesa de Xi’An, passaram anos escavando pedreiras na província de Yunnan, no sul da China. No processo, encontraram centenas de fósseis do período Cambriano (entre 542 milhões e 488 milhões de anos atrás, aproximadamente). O período é conhecido por uma rápida diversificação das formas de vida multicelulares na Terra, chamada de “Explosão Cambriana” – em poucos milhões de anos, os primeiros ancestrais dos artrópodes (como insetos) e equinodermos (como as estrelas do mar) modernos apareceram, entre vários outros seres vivos complexos.

A nova pesquisa sugere que as relações de parasitismo entre animais macroscópicos surgiram na mesma época (relações de parasitismo entre vírus e bactérias, evidentemente, já existiam há muito mais tempo).

Tudo começou quando os cientistas encontraram vários fósseis de braquiópodes – animais marinhos de corpo mole envoltos por duas conchas, semelhantes visualmente a moluscos bivalves como ostras e mexilhões – que datam de, mais ou menos, 513 milhões de anos. A equipe notou que vários representantes da espécie, chamada Neobolus wulongqingensis, possuíam estruturas duras e fossilizadas presas em suas conchas.

Alguns tinham apenas duas ou três, enquanto outros chegavam a apresentar uma dúzia desses objetos. Analisando os fósseis, os cientistas descobriram que as estruturas provavelmente eram conchas em formato de tubo que abrigaram um outro ser dentro delas, também de corpo mole. Esses animais não ficaram preservados, mas, por conta do formato de seus tubos de proteção, foi possível estabelecer que eles tinham a forma longilínea de minhocas.

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Dessa forma, os cientistas adquiram uma prova concreta de que esses bichinhos compridos viviam grudados nos braquiópode. Mas isso não significa que era uma relação de parasitismo. Na natureza, animais podem viver em conjunto em relações benéficas para ambos – é o caso dos processos conhecidos como mutualismo, inquilinismo ou comensalismo, em que as duas espécies se beneficiam da relação, ou pelo menos uma tem resultados positivos sem afetar negativamente a outra. No caso do parasitismo, a presença de outra espécie necessariamente causa danos ao hospedeiro.

Para investigar isso, a equipe decidiu comparar os braquiópodes que possuíam as estruturas dos antigos parasitas com os que não tinham nenhum. Os resultados mostraram que os hospedeiros do parasita tinham uma biomassa menor do que os que viviam sozinhos, ou seja: conchas mais finas e fracas. Isso é um forte indício que os seres que viviam naqueles tubos eram parasitas que roubavam nutrientes dos braquiópodes.

A equipe ainda suspeita que a relação estabelecida era do chamado cleptoparasitismo (quando uma espécie literalmente rouba parte da comida de outra). Isso porque o posicionamento dos tubos parecia seguir sempre um padrão e estar sempre alinhado à rota da alimentação dos braquiópodes, o que sugere que os parasitas roubavam parte da comida que o organismo mole puxava com seus tentáculos para dentro da concha.

Não há evidências concretas de outras relações de parasitismo anteriores a essa, o que sugere que esse tipo de relação pode ter surgido nessa época, ou que simplesmente outros organismos parasitas anteriores não ficaram fossilizados ou não foram encontrados ainda. Mas, segundo a equipe, faz sentido que o fenômeno tenha surgido no Cambriano: afinal, além de uma enorme variedade de planos corporais ter surgido nessa época, comportamentos como a caça também parecem ter emergido nestes milhões de anos.

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