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Como a vaselina foi criada?

O químico Robert Chesebrough descobriu que uma gosma do petróleo curava quase tudo. Para provar a eficácia da vaselina, ele queimava a própria pele

Por Ayrton Mugnaini Jr.
Atualizado em 11 Maio 2018, 17h54 - Publicado em 31 jan 2008, 22h00

Ela é muito útil para lubrificar coisas. Sua consistência gelatinosa diminui o atrito entre objetos. Substância versátil, serve para ser usada até mesmo em determinadas partes do corpo humano. Muita gente a utiliza para facilitar o encaixe de objetos cilíndricos em orifícios redondos – parafusos e porcas, por exemplo. De seus 150 anos de idade, a vaselina nasceu como uma espécie de produto milagroso, capaz de consertar dobradiças e trilhos de portas, ajeitar cabelos rebeldes, proteger a pele, curar queimaduras e fortificar todo o organismo.

Essa, pelo menos, era a propaganda do produto nas palavras de seu descobridor, o químico anglo-americano Robert Chesebrough. Aos 22 anos, ele ouviu falar na perfuração do primeiro poço de petróleo em Titusville, na Pensilvânia, e decidiu conferir a novidade. Torrou suas economias em uma passagem de Nova York para lá e passou a investigar o novo combustível.

Analisando o processo de extração de petróleo, ele percebeu um resíduo melequento que ficava nas brocas de perfuração. O troço não tinha nenhum valor comercial, mas os empregados da indústria do petróleo gostavam da gosma: ela ajudava na cicatrização de cortes e queimaduras. Sentindo cheiro de lucro, Chesebrough passou 10 anos desenvolvendo um processo para refinar aquela geléia de petróleo – ela tornou-se inodora e, de preta, passou a incolor.

Em 1870, de volta a Nova York, construiu uma fábrica dedicada à nova descoberta, batizada depois de vaselina. Mas um invento, por melhor que seja, não existe sem divulgação. Numa época sem televisão, rádio ou internet, o jeito era ir à luta pelas ruas e estradas. Chesebrough cruzou o estado de Nova York divulgando pessoalmente a vaselina como um super-remédio, capaz de curar tudo (a maioria dos “milagres”, descobriu-se depois, acontecia porque a substância gelatinosa impede a proliferação de bactérias).

Agindo como sua própria cobaia, o químico queimava a pele com ácido ou fogo e em seguida passava vaselina nos ferimentos. Revelou-se tão bom marqueteiro quanto inventor: na virada para o século 20, a meleca já estava espalhada pelos EUA e escorregava para a Europa. Sua indústria tornou-se uma gigante dos produtos de limpeza e higiene pessoal, adquirida pela Unilever em 1987.

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Apesar de pesquisas mais recentes desaconselharem o uso de vaselina para certas práticas (no sexo anal, por exemplo, o lubrificante pode desgastar o látex da camisinha, aumentando as chances de ela rasgar), Chesebrough manteve-se fiel à sua invenção até os últimos dias. Apregoando que a vaselina era rica em sais minerais, o químico tomava uma colher da meleca por dia. Viveu até os 96 anos.

Grandes momentos

• Antes de descobrir a vaselina, Chesebrough trabalhava extraindo querosene do óleo de baleias.

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• O químico batizou sua invenção apenas em 1872, ano em que ela foi patenteada. A hipótese mais provável é que o nome seja uma junção de duas palavras estrangeiras, wasser (“água”, em alemão) e elaion (“óleo”, em grego).

• Médicos continuam indicando a vaselina para aliviar a dor de queimaduras. Mais recentemente, corredores passaram a usar o produto nos pés. A substância forma uma película contra o atrito causado pelas pisadas.

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