O formato do corpo de animais está mudando para lidar com mudanças climáticas, diz estudo
Pesquisadores verificaram que os bicos de aves e caudas de mamíferos estão ficando maiores. Entenda o que isso tem a ver com o aquecimento global.
O aquecimento global já é um dos assuntos mais comentados do ano. No último mês, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgou um relatório sobre os diferentes cenários de temperatura que o mundo pode esperar para as próximas décadas. E os animais nem precisaram ler o relatório para saber que a situação é grave – eles mostram isso com o próprio corpo.
Uma pesquisa publicada no periódico Trends in Ecology & Evolution mostra que algumas espécies estão alterando o formato do corpo para lidar com as mudanças climáticas. A equipe de pesquisadores percebeu que os apêndices (estruturas que se projetam para fora do corpo, como os bicos, caudas e orelhas) dos animais estão aumentando de tamanho. Essa é uma estratégia evolutiva para resfriar o corpo e combater o calor externo.
Muitas espécies de sangue quente (como aves e mamíferos) utilizam seus apêndices para regular a temperatura corporal interna. Os elefantes africanos, por exemplo, bombeiam sangue para as orelhas e as balançam para dissipar o calor. As aves, por sua vez, desviam o fluxo sanguíneo para o bico.
O primeiro a observar essa relação foi o zoólogo americano chamado Joel Allen, na década de 1870. Ele percebeu que animais de climas quentes tendiam a ter membros maiores quando comparados aos de clima frio. Os membros maiores conferem uma maior superfície de contato com o ambiente – e portanto, mais dissipação de calor.
É só pensar no que você faz quando está com frio: tenta se encolher e trazer todos os membros para perto de si, para evitar perder calor. O melhor para animais de climas quentes, então, é projetar seus membros para fora. A relação entre clima e tamanho dos membros ficou conhecida como Regra de Allen.
O novo estudo verificou a mudança corporal principalmente em aves. O bico da cacatua de gangue (Callocephalon fimbriatum) e do papagaio-cinzento (Psittacus erithacus) estão de 4% a 10% maiores quando comparados a medições feitas em 1871. Esse “crescimento” não é uma escolha dos animais, e sim um resultado da evolução e adaptação ao ambiente ao longo dos últimos 150 anos. As aves com os bicos ligeiramente maiores conseguem dissipar melhor o calor e têm mais chances de sobreviver, passando seus genes para os filhos.
Os pássaros são os mais afetados, mas não os únicos. Os cientistas também registraram aumentos no tamanho da asa de morcegos, no comprimento da cauda de ratos-do-campo e também no tamanho das pernas e caudas de musaranhos mascarados. Em resumo, o problema já atinge espécies diversas e de diferentes localidades do globo.
É notável que as espécies estão evoluindo para sobreviver, mas isso não significa que todas conseguirão. Algumas aves, por exemplo, precisam manter o formato dos bicos devido ao estilo de alimentação. Sem poder se alimentar ou resfriar o corpo, algumas acabarão morrendo – o que pode intensificar a extinção de espécies no futuro.
Mapear as espécies mais vulneráveis é essencial para que os ambientalistas aumentem os esforços de conservação. Mesmo assim, os pesquisadores deixam claro que a forma mais simples de preservar a vida destes animais é evitando a intensificação do aquecimento global.