PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

O médico Eugene Dubois

Perfil e história do médico, o descobridor do elo perdido entre o homem e o macaco.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Alessandro Greco

O elo perdido entre o homem e o macaco quase ficou realmente perdido. Ele passou décadas trancafiado em um cofre do Museu Teyler, em Harleem, Holanda. Seu guardião, o médico holandês Eugene Dubois, colocou-o lá em 1900 e só deixou alguém vê-lo mais de 20 anos depois.

Nascido em Eijdsen, Holanda, em 1858, Dubois foi o primeiro homem a procurar fósseis humanos. Com talento, persistência e sorte, ele achou o primeiro fóssil do Homo erectus, na época chamado por ele de Pithecanthropus erectus (pithekos significa “macaco” em grego, e anthropos, “homem”). Cavando nas margens do Rio Solo, em Java, na Ásia, Dubois encontrou um crânio, um dente e um fêmur do que considerou ser o elo perdido entre o macaco e o homem. Mas pagou tão caro pelo feito que talvez tivesse preferido nunca ter saído de sua cidade natal.

Dubois nasceu em uma sociedade em que dizer que o homem era parente do macaco era heresia. A Origem das Espécies, de Charles Darwin, foi lançado um ano depois de seu nascimento e aceito como verdade apenas no século seguinte. Ou seja, ele não tinha nenhuma base científica para apoiá-lo em sua tese do elo perdido. Foi a vontade de comprovar a Teoria da Evolução de Darwin que o levou a abandonar, em 1887, uma promissora carreira acadêmica na Universidade de Amsterdã, onde se formara médico, para aventurar-se pela Indonésia.

O cientista levou sua mulher Anna e a filha Eugène na viagem e, durante a estada de oito anos, teve mais dois meninos. Em 1893, a morte da caçula, ao nascer, abalou os alicerces da família. O casal nunca mais foi o mesmo. Anna vivia acusando Dubois de colocar o trabalho acima da saúde da família. E, para piorar a relação já crítica entre um pesquisador obcecado pelo trabalho e uma dama européia que não tinha muito o que fazer no meio da Ásia, Dubois pegou malária e ficou várias vezes à beira da morte.

Continua após a publicidade

Mas, se as coisas iam mal em casa, o trabalho no campo dava frutos. Em 1891, Dubois encontrou um pedaço do crânio do sonhado elo perdido. Em 1894, publicou uma descrição do fóssil e concluiu que não era de um macaco nem de um homem, mas de um ser intermediário. Certo de que iria finalmente encontrar admiração e reconhecimento por seu trabalho, voltou para casa.

Ao chegar na cidade natal, o cientista foi encontrar com a mãe e mostrou a ela, orgulhoso, o fruto de suas buscas. Recebeu um olhar desconfiado como resposta. Estava claro que a própria mãe não o apoiaria. E, mais claro ainda, que muito menos aprovação angariaria junto aos colegas. Quase todos duvidaram do achado. Dubois, já bastante neurótico devido às seguidas rejeições, ficou paranóico. Passou a trancar seus fósseis num cofre. Tinha medo que alguém tentasse roubar para si as glórias da descoberta. Os ossos raramente viram a luz do Sol durante mais de 20 anos – o cofre só era aberto nos dias em que Dubois se sentia “excessivamente melancólico”.

Aos 70 anos, separado de Anna, o cientista foi morar sozinho. Boa-pinta, apesar da idade, teve várias namoradas entre as empregadas até que os vizinhos começaram a falar mal da constante troca de ajudantes na casa. Na mesma época, sua teoria do elo perdido começou a ser aceita com a descoberta de outros fósseis de Homo erectus pelo alemão Ralph Von Koenisgad. Isso enfureceu o holandês e ele dedicou os últimos anos da carreira tentando refutar as evidências de que Koenisgad havia achado fósseis semelhantes aos seus.

Continua após a publicidade

Dubois morreu em 1940, de ataque cardíaco, e sua história permaneceu obscura por mais de meio século. Somente este ano, com o livro The Man Who Found the Missing Link (O Homem que Achou o Elo Perdido), a escritora americana Pat Shipman trouxe à tona a memória do primeiro caçador de fósseis humanos da história com uma bem acabada biografia. Demorou, mas finalmente Dubois, tão azarado quanto visionário, teve seu merecido reconhecimento.

* Jornalista científico e autor do livro Homens de Ciência

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.