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O que é, afinal, uma cobra-cega?

Uma nova espécie de cobra-cega – que nem cobra é – acaba de ser descoberta no Espírito Santo. Entenda o que é e onde se esconde o bichinho.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 11 ago 2019, 12h15 - Publicado em 9 ago 2019, 20h30

Apesar do nome, as famosas “cobras-cegas” não são répteis, mas sim… anfíbios. Eles são divididos em três classes: os Anura (que têm forma de sapo), os Caudata (que têm forma de salamandra) e os Gymnophiona (as cobras-cegas, também conhecidas como cecílias).

Elas ganharam nome por serem ápodes — com corpo alongado e sem patas. Compridas e desprovidas de membros, mais parecem serpentes que pererecas. São animais raros. Há pouco mais de 50 espécies catalogadas. Pelos hábitos taciturnos, seus olhos são extremamente atrofiados. Elas confiam em outros sentidos. 

Ao todo, 36 delas são encontradas nas matas brasileiras. Pesquisadores anunciaram no início de agosto a descoberta de uma nova cobra-cega no sul do Espírito Santo. Não é nada fácil achar uma cecília na natureza, que dirá descobrir uma nova espécie. Isso porque a maioria delas vive no meio da terra, então o método mais eficiente para encontrá-las é cavando com enxadas. 

“Algumas espécies de cecílias possuem hábito fossorial, ou seja, vivem abaixo das folhas ou do solo”, explica à SUPER o biólogo e herpetólogo (especialista no estudo de répteis e anfíbios) Thiago Marcial de Castro, o descobridor da cobra-cega. “No entanto, há espécies desse grupo que são semi-aquáticas, vivem nas margens de ambientes alagados, onde usam o substrato lamacento como hábitat”, afirma.

Foi ele quem coordenou os trabalhos que levaram à catalogação do novo animal. Tudo começou quando Castro reuniu alunos do Centro Universitário São Camilo interessados em conhecer e estudar a fauna da região. Com recursos próprios, sem apoio da universidade, eles iniciaram um projeto de pesquisa independente para fazer um inventário dos anfíbios e répteis locais, que vivem em áreas ainda preservadas de Mata Atlântica.

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Deu muito certo: os cientistas fizeram ricos registros de diversas espécies nativas da região. Entre elas, uma chamou a atenção — a pequena cecília de corpo fino e bicolor. Era muito diferente das “parentes” de grupo até então descritas pela ciência. Ela foi capturada através de armadilhas que a interceptaram enquanto caía das folhas, no dia 19 de agosto de 2017, poucos meses após o início dos trabalhos de campo.

O grupo deu sorte. “Tamanha é a raridade dessa espécie que, mesmo com uma equipe efetuando buscas exaustivas ao longo de dois anos, apenas um indivíduo foi coletado”, conta Castro. Segundo o herpetólogo, com este único indivíduo, iniciaram os esforços para descrever a nova espécie, em parceria com o biólogo Adriano Maciel, do Museu Paraense Emílio Goeldi, detentor de um dos mais importantes acervos de história natural do Brasil.

Localizado em Belém do Pará e vinculado ao MCTIC, foi fundado em 1871 e é reconhecido mundialmente por suas investigações científicas da Amazônia. Após a descrição, a espécie foi batizada de Luetkenotyphlus fredi. Esse primeiro indivíduo foi encontrado no município de Itapemirim (ES).

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Mais especificamente, na Mata do Ouvidor, área florestal particular da Usina Paineiras, que fabrica açúcar e etanol. No verão do ano de 2018, pesquisadores da UERJ liderados pela bióloga Jane Célia Ferreira de Oliveira também foram fazer estudos de campo na região e coletaram outras duas L. fredi no Monumento Natural Serra das Torres, região de belos picos e montanhas. Uma veio do município de Atílio Vivácqua, e a outra de Mimoso do Sul.

Das três cobras-cegas que foram capturadas, uma está no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), em Santa Teresa, no Espírito Santo, e as outras duas foram para o Museu Goeldi. “Não são conhecidas ainda informações da história natural da espécie, como número de filhotes, dieta, ou mesmo dados específicos de horário de atividade ou sobre como ela utiliza o substrato nas florestas onde vive”, disse Castro em comunicado do INMA.

Para o herpetólogo, o fato de ser uma cecília endêmica do Espírito Santo pode trazer benefícios para o estado. “A descoberta de uma espécie tão rara eleva a importância da biodiversidade capixaba e fortalece a iniciativa da conservação nos ambientes florestais onde foram registradas”, diz. Quem sabe a cobra-cega não vira um símbolo local. 

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