Papagaio mexicano canta igual um gavião – ouça
Segundo estimativas dos cientistas, só restam cerca de 100 exemplares vivos da espécie - descoberta recentemente nas selvas de Iucatán
Um desavisado que chegasse sem cerimônias pedindo o pé do Amazona gomezgarzai levaria um baita susto. Não pela possível desobediência do papagaio, mas por conta de sua voz única – que se assemelha muito a um grito esganiçado de uma águia ou de um gavião. A espécie, encontrada recentemente na floresta tropical mexicana, foi descrita pela primeira vez no periódico científico PeerJ.
Você pode ouvir a semelhança entre os cantos neste áudio, disponibilizado pelos cientistas. Miguel Gómez Garza – o pesquisador que dá nome a bicho – foca o estudo em apontar as características que tornam o A. gomezgarzai único. Além da voz estridente, há também diferenças na estrutura física, cor das penas (a máscara vermelha no rosto e detalhes em azul nas asas) e no seu comportamento (bastante agitado, em comparação a outras espécies).
Por uma grande ironia do destino, as águias são grandes predadores desses pássaros. Possuir um grito que imite seu maior inimigo, segundo os cientistas, pode ser uma boa técnica para manter longe potenciais competidores. Gritando como águia, o papagaio pode garantir que outro da espécie fique afastado de suas árvores e de seu alimento.
Assim como seus primos, o papagaio-de-iucatã (A. xantholora) e o papagaio-de-testa-branca (A. albifrons nana), a nova espécie habita a península de Iucatán, mas não é híbrido de nenhum deles. Gómez Garza obteve autorização junto a autoridades mexicanas para recolher um macho e uma fêmea encontrados em áreas de reserva. A análise do DNA do casal emplumado demonstrou que a nova espécie se diferenciou do papagaio-de-testa-branca há cerca de 120 mil anos.
Medindo cerca de 25 cm quando de pé (mais ou menos o tamanho de um pombo de cidade comum), o A. gomezgarzai não possui um programa de preservação para sua espécie. De acordo com os pesquisadores, existem apenas cerca de 100 exemplares vivos, o que aponta para a urgência desses esforços.
“O tráfico internacional ilegal não era um problema tão gritante há alguns anos, mas continua a acontecer, localmente, para algumas espécies. Esse sinal de alerta é importante para salvar papagaios por todo o planeta”, explica Gómez Garza, em entrevista ao The Guardian.