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Pássaros “cantam” enquanto dormem – e talvez até tenham pesadelos

Cientistas transformaram o movimento dos músculos e sinais neurais do sono de bem-te-vis em canções que fariam se estivessem acordados.

Por Leo Caparroz
22 abr 2024, 19h01

Parece que nem dormindo os bem-te-vis se cansam de cantar. Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Buenos Aires traduziu os sinais neurais do sono desses pássaros em música, e descobriu que eles são muito semelhantes ao cantar comum das aves.

Segundo os pesquisadores, o padrão de atividade elétrica no cérebro de algumas aves dormindo corresponde ao que acontece quando elas estão acordadas. Em 2018, eles descobriram que essa atividade neuronal faz com que os músculos da garganta e do peito dos pássaros se movam enquanto dormem da mesma forma de quando estão acordados e cantando.

Em seu novo estudo, publicado no periódico científico Chaos, eles mostram como conseguiram traduzir a atividade muscular do sono em som.

Primeiro, os pesquisadores capturaram dois bem-te-vis selvagens. Usando eletrodos implantados cirurgicamente, eles registraram cerca de 100 ocorrências de sua atividade cerebral, tanto com as aves cantando quanto com elas dormindo.

Então, eles pegaram emprestado de físicos um modelo que prevê os sons de instrumentos de sopro, e colocaram essas medições de bem-te-vis. Com isso, o modelo sintetizou um canto que teria sido produzido pelo pássaro dorminhoco se ele estivesse desperto.

Os pesquisadores ficaram chocados com o quão parecido com o canto original o som sintético era. Das várias músicas registradas, a mais marcante para eles foi um padrão específico, que os bem-te-vis usam em disputas de território. Isso botou uma ponta de dúvida nos cientistas: será que o pássaro estaria sonhando com essa situação?

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Eles assistiram ao vídeo da ave adormecida que tinha produzido esse som e perceberam que as penas de sua cabeça se erguiam como se ele estivesse brigando com um rival. Os cientistas acreditam terem feito o primeiro registro de um pesadelo em pássaros.

Isso parte do pressuposto de que os pássaros possam ter sonhos – o que é bem difícil de avaliar. O que chamamos de sonho e acreditamos ser uma característica fruto da linguagem humana, pode ser compartilhada com animais para diferentes propósitos: como se preparar para situações reais. Os bem-te-vis estariam antecipando uma briga em seus sonhos, para estarem preparados quando a disputa realmente acontecer.

Seguindo essa ideia, os pesquisadores afirmam ter interesse em ampliar seu repertório de aves estudadas, principalmente para incluir aves que, ao contrário dos bem-te-vis, precisam aprender e treinar seus cantos. Talvez nesses pássaros os sonhos sejam horas inconscientes de prática.

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