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Peixe mexicano grita tanto para transar que golfinhos estão ficando surdos

Os chamados de acasalamento da espécie Cynoscion othonopterus são tão altos que ecoam no casco dos barcos pesqueiros – e podem ser ouvidos da superfície da água

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 dez 2017, 16h04

Chegou o fim do ano, e com ele, notícias de tirar o fôlego diretamente do mundo animal. Depois de macacos fêmea japonesas descobrirem a masturbação (com a ajuda de cervos fleumáticos), chegou a hora das corvinas (Cynoscion othonopterus), típicas do litoral mexicano, estrelarem o noticiário sexual.

As corvinas sofrem com a pesca em escala industrial, e estão em risco de extinção segundo a IUCN. Normalmente elas se distribuem por todo o golfo da Califórnia – a estreita faixa de oceano Pacífico que penetra no litoral oeste do México. Mas quando chega a temporada de reprodução, toda a população tem o hábito de se reunir no delta do rio Colorado.

São 1,5 milhão de espécimes concentrados em um espaço muito pequeno – 1% da área ocupada normalmente. Diante de tanta concorrência, a extravagância é o caminho para se dar bem na pista. Para atrair as fêmeas, os machos emitem uma série de pulsos sonoros muito altos e rápidos, que se assemelham, segundo biólogos, ao disparo de uma metralhadora. Logo se forma um coro de chamados de acasalamento, que foi descrito como um estádio lotado. 

Timothy Rowell e Brad Erisman, uma dupla de biólogos, registraram e analisaram essa parede sonora cheia de amor para dar. Os resultados estão em um artigo científico publicado hoje. “Os níveis são altos o suficiente para gerar perda de audição permanente em mamíferos marinhos que foram vistos tentando se alimentar desses peixes”, afirmou Rowell ao The Guardian. “É som mais alto produzido por uma espécie de peixe de que se tem registro.”

Cynoscion othonopterus tem cerca de 70 cm – algumas alcançam um metro. Por terem uma distribuição geográfica limitada e produzirem ruídos indiscretos, que anunciam a própria posição, elas são alvo de mais de 500 barcos pesqueiros todos os anos. Em uma hora, é possível pescar mais de duas toneladas de peixe sem fazer esforço. Tripulantes afirmam que o som ecoa no casco das embarcações e pode ser ouvido nitidamente da superfície.

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O ruído ambiente, na presença das corvinas, fica 21 vezes mais alto que a média, e alcança algo entre 170 e 210 decibéis submarinos – uma unidade de medida diferentes dos decibéis tradicionais, usada para medir a intensidade do som na água, e não no ar. Adotando a taxa de conversão de 61,5 (que, apesar de discutível, é razoavelmente confiável), o ruído equivale a algo entre 118,5 e 148,5 decibéis comuns – mais ou menos o mesmo que um show do The Who no auge, com 130 decibéis.

Da próxima vez que você estiver bravo com os chamados de acasalamento de seus vizinhos, lembre-se dos golfinhos e leões marinhos mexicanos, mergulhados no meio da única orgia do mundo que é mais alta que Woodstock.

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