Poluição na China pode ter causado 30 milhões de mortes em 17 anos
Nova estimativa foi feita utilizando dados de satélite de 2000 a 2016 em um dos países mais poluídos do mundo.
Com cidades muito populosas e indústrias altamente ativas, a China enfrente um sério problema de poluição do ar há décadas, apesar de melhorias recentes nos últimos anos. Um novo estudo, porém, revelou um dado chocante: até 30 milhões de pessoas podem ter morrido precocemente na China entre os anos de 2000 e 2016 por conta da poluição do ar.
A estimativa foi feita por cientistas de vários centros de pesquisa chineses e da Universidade de Atlanta, nos Estados Unidos, e publicada na reviste Proceedings of the National Academy of Sciences. Eles reuniram dados de satélite da Nasa no período de 17 anos analisado, tanto da China continental como de Macau, Hong Kong e Taiwan. Combinando esses números com as informações de estações na superfície, eles estimaram a quantidade de PM2.5 para cada região – é o chamado material particulado fino, formado por partículas com até 2,5 micrômetros de tamanho, o equivalente a 3% da espessura de um fio de cabelo humano.
Por serem tão pequenas, essas partículas podem entrar e se acumular em nossos tecidos, causando uma variedade de prejuízos que ainda estão sendo estudados pela ciência. Estudos já associaram esse tipo de poluição com quadros de asma, bronquite, câncer no pulmão, danos ao coração e morte precoce.
Na China, estudos anteriores já haviam calculado a relação entre maior exposição à poluição e a morte precoce não-acidental em adultos. Generalizando essa proporção em todo o território chinês com as novas estimativas de PM2.5 por região, os cientistas calcularam que, todos os anos, entre 1,5 e 2,2 milhões de pessoas morreram a cada ano no período 2000-2016, totalizando 30,2 milhões de óbitos precoces relacionados à poluição.
Não surpreendentemente os habitantes que vivem em áreas com maior atividade industrial e maiores concentrações urbanas foram mais afetadas. Nesse sentido, as províncias de Tianjin, Shandong, Honã e Hebei se destacaram negativamente nos números per capita.
Os números estão um pouco acima de estimativas anteriores, que previam 1,25 milhão de mortes todos os anos, mais ou menos. Mas os pesquisadores argumentam que o novo estudo é o primeiro a utilizar dados de satélites cobrindo todo o território do país – análises anteriores utilizavam dados medidos em estações instaladas na superfície, que se concentram mais em grandes cidades. Por isso, as estimativas feitas para os quase 600 milhões de chineses que vivem em áreas rurais seriam insuficientes.
Nos últimos anos, o governo chinês vem pondo em prática uma série de medidas para conter a poluição, o que resultou em uma queda de 33% em 74 importante cidades chinesas entre 2013 e 2017. Com isso, o país asiático deixou de ser o principal protagonista da lista de cidades mais poluídas do mundo, em que a Índia agora domina, mas ainda está longe de ter se livrado do problema.