“Pompeia pré-histórica”: erupção vulcânica preservou fósseis de trilobitas em detalhes
Fósseis mais completos já encontrados desses icônicos artrópodes revelam detalhes inéditos, incluindo todo o sistema digestivo dos bichos.
Há 500 milhões de anos, uma erupção vulcânica na cordilheira de montanhas Alto Atlas, no Marrocos, matou um grupo de trilobitas, os icônicos artrópodes marinhos que viveram por centenas de milhões de anos nos oceanos terrestres. Quando as cinzas vulcânicas cobriram esses bichos, seus corpos foram instantaneamente fossilizados, preservando detalhes jamais vistos – num processo que cientistas compararam com o que aconteceu com a cidade romana de Pompeia após a erupção do Vesúvio, em 79 d.C.
Agora, esses fósseis super-preservados foram encontrados e descritos por cientistas num novo estudo publicado na revista Science.
“Venho estudando trilobitas há quase 40 anos, mas nunca senti como se estivesse olhando para animais vivos como agora”, conta Greg Edgecombe, pesquisador do Museu de História Natural do Reino Unido que integra a equipe.
Trilobitas são, possivelmente, os seres mais famosos e conhecidos do período Cambriano, que ocorreu entre 542 milhões e 488 milhões de anos atrás. Eles habitaram os oceanos por quase 100 milhões de anos, até o Permiano — quando foram extintos num grande evento de extinção em massa. Há incontáveis fósseis encontrados, já que eles viveram por muito tempo em boa parte do mundo; mais de 22 mil espécies já foram catalogadas por cientistas nos últimos dois séculos.
Nenhum desses fósseis, porém, tem tantos detalhes como o novo encontrado no Marrocos. Grande parte do corpinho dos trilobitas é formado por um exoesqueleto feito de calcita, um mineral que facilmente se fossiliza, e por isso encontramos vários desses bichos. Preservar partes mais moles, como as antenas e pernas do bicho, é algo bem mais raro.
Os novos achados trazem não só essas características como outros detalhes inéditos dos trilobitas, incluindo estruturas formadas por tecido mole, como a boca, e partes internas, como todo o sistema digestivo. São os exemplares mais bem preservados já encontrados desses animais.
Isso ocorreu porque uma erupção vulcânica liberou uma enorme onda de cinzas que quase instantaneamente envolveram os trilobitas que estavam nas águas rasas próximas à praia, se moldando a seus corpos e logo depois se transformando em pedra. Os bichos foram “cimentados” e preservados no tempo, num processo comparado pelos cientistas com a destruição de Pompeia, que também moldou e preservou o corpo das vítimas exatamente como estavam na hora da tragédia.
Com base nos fósseis, os pesquisadores conseguiram reconstruir modelos 3D de como eram esses bichos em detalhes, incluindo coisas como as pequenas e finas cerdas que cobriram as patas dos trilobitas como pelos. Os resultados mostraram também pequenas partes inéditas desses bichos, que não foram encontradas nem em outros fósseis muito preservados, como pequenos apêndices que ajudavam a levar comida à boca em formato de fenda desses artrópodes.
Além de revelar mais detalhes sobre esses bichos pré-históricos icônicos, a pesquisa também ressalta como os depósitos de cinzas vulcânicas podem ser fontes interessantes e ainda pouco exploradas de fósseis super preservados, desses e outros animais.