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Por que o tabuleiro Ouija parece funcionar para alguns

Se não há provas da existência de espíritos, por que algumas pessoas juram que suas experiências com o tabuleiro são verdadeiras? A ciência responde.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 3 nov 2022, 19h19 - Publicado em 3 nov 2022, 19h12

Os tabuleiros Ouija já estão entre nós há cem anos. Ele foi criado para, principalmente, ganhar dinheiro em cima da moda espiritualista que os Estados Unidos passavam no fim do século 19. Já em 1891, as suas habilidades eram declaradas em jornais: “Ouija, o maravilhoso tabuleiro falante”.

Vendido como “uma ponte entre o material e o imaterial, o conhecido e o oculto”, um fonte de recreação infalível e um objeto capaz de responder questões “sobre o passado, presente e futuro com impressionante precisão”, ele foi, com o tempo, perdendo o status de objeto religioso e ganhando ligação com o ocultismo. Essa mística de terror foi explorada, inclusive, em dois filmes do gênero: Ouija – O Jogo dos Espíritos (2014) e Ouija 2: A Origem do Mal (2016).

O tabuleiro é simples. Em uma tábua reta, as letras do alfabeto latino ficam escritas em dois semicírculos. Nos cantos superiores, as palavras “sim” e “não”. Embaixo, números de 0 a 9 e “adeus”. Todos os participantes devem colocar o indicador na prancheta, um dispositivo em formato de gota, que geralmente tem uma janelinha no meio – é ele que se movimenta pelo tabuleiro e soletra as respostas das perguntas.

Enquanto para alguns o tabuleiro não passa de uma brincadeira inofensiva, outros testemunham sua capacidade de se comunicar com espíritos. A ciência, obviamente, descarta a possibilidade de intervenção fantasmagórica; mas algumas pessoas realmente defendem que sentiram algo guiá-las pelo tabuleiro, formando palavras e respostas vindas do outro lado. 

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O motivo pelo qual o tabuleiro aparenta funcionar pode não ser tão óbvio. Megan Kenny, professora de psicologia na Universidade de Sheffield Hallam, na Inglaterra, afirma que uma possível resposta é o efeito ideomotor. O nome tem origem das palavras ideo (de ideia) e motor (relacionado à atividade muscular). Ele sugere que somos capazes de movimentos dos quais não estamos cientes, guiados pelos nossos pensamentos. Com os dedos na peça do tabuleiro, alguém pode mexê-la de forma subconsciente.

Outra explicação, que também tem a ver com o efeito ideomotor, está no nosso senso de agência. Ele é a nossa habilidade subjetiva de controlar ações que terão consequência em eventos do ambiente. Se você, por exemplo, soltar seu celular, ele vai cair.

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“Experimentos com tabuleiros Ouija demonstraram que nosso senso de agência pode ser manipulado, nos levando a acreditar que um terceiro invisível estaria mexendo a peça”, escreve Kenny para o site de divulgação científica The Conversation. “Quando nossas previsões batem com o esperado, por exemplo, se você levanta uma mesa e ela se mexe, nós sentimos que fomos responsáveis pela ação. Mas se acharmos que o resultado real não condiz com aquilo que esperávamos, nosso senso de agência diminui – e é possível que, durante uma sessão com o tabuleiro, acabemos atribuindo esse movimento a um agente externo”.

Kenny também aponta o contágio emocional como um outro fator possível. Ao usar um tabuleiro Ouija com outras pessoas, a empolgação e o ambiente carregado torna mais fácil a criação de um vínculo empático com aqueles ao nosso redor. Quando todos se alimentam de seus medos e ansiedades, ficamos mais propensos a acreditar no espírito ditando a mensagem. 

É possível que a combinação desses fatores – o efeito ideomotor, um senso de agência manipulado e o contágio emocional – se combinem para convencer as pessoas de que espíritos estão se comunicando com elas. “Contudo, dada a dificuldade que é replicar em laboratório a atmosfera social em que a maioria das pessoas usa um tabuleiro de Ouija, não podemos dizer com completa certeza que esses fatores sozinhos explicam o que acontece quando se colocam os dedos na peça e se invocam os espíritos”, lamenta Kenny.

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