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Por que os humanos têm consciência?

Milhões de espécies vivem superbem sem se reconhecer no espelho - mas só nós somos manipuladores tão sofisticados

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Texto Giovana Girardi

Juntamente com a linguagem, talvez a consciência de si mesmo, dos próprios atos e dos outros seja uma das últimas barreiras que separam de alguma maneira os seres humanos do resto dos animais. Quando questionado sobre a origem da consciência humana, o biólogo alemão Ernst Mayr, considerado o Darwin do século 20, respondeu com simplicidade: ela veio da consciência dos animais. Segundo ele, não há justificativa para considerá-la propriedade exclusiva da espécie humana. Trata-se de uma característica moldada pela evolução. E é o que fica comprovado com formas rudimentares de noção do próprio corpo, observadas entre grandes primatas e outros mamíferos (veja quadro nesta página). Há décadas a ciência busca explicar o que nos faz diferentes dos nossos parentes mais próximos, os chimpanzés. Afinal, eles têm memória, são capazes de rir, já foram flagrados criando alianças para derrubar um macho líder e até mesmo em situações em que parecem se colocar no lugar do outro, coisa que se imaginava ser exclusivamente humana.

Cabeção

Em algum grau, essas características são indício de uma forma rudimentar de consciência, acreditam os estudiosos de comportamento animal. Os bichos têm noção das coisas a que têm acesso e se dão conta de eventos no ambiente. Mas como inferir se têm autoconsciência? A teoria mais aceita é que essa propriedade é fruto da evolução do sistema nervoso e só teria sido obtida com o aumento do cérebro – e o surgimento da linguagem. Foi no Homo sapiens que o córtex, camada superior do cérebro, atingiu seu desenvolvimento máximo. E é justamente essa área a responsável por atividades mentais consideradas “nobres”, como consciência, linguagem e raciocínio. O nosso córtex, contudo, é só a versão mais exagerada de uma tendência que já pode ser detectada entre outras criaturas do grupo dos mamíferos.

A resposta mais direta para a pergunta acima então é: porque os humanos têm um cérebro grande e complexo. Mas por que ele se desenvolveu assim? Levando especificamente a consciência em consideração, a resposta pode ser a nossa vida social extremamente complexa, cheia de alianças, viradas de mesa e traições. A necessidade de estar um passo à frente dos outros, de antecipar as jogadas de companheiros e adversários, teria aumentado significativamente nosso processamento cerebral. E, para entender a cabeça dos outros, nada melhor do que usar a nossa compreensão de nós mesmos como um “modelo” deles. Nasceria, assim, a autoconsciência.

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Espelho, espelho meu

E o que dizer de elefantes, golfinhos e chimpanzés que reconhecem a própria imagem em um espelho? Estudos sobre isso são os mais clássicos na investigação da consciência entre animais. Em geral, os bichos são colocados diante de um espelho para ver qual é a reação deles. Depois são marcados com tinta, enquanto estão inconscientes, e colocados na frente do objeto. Se eles entendem que são eles os refletidos na imagem, e não um outro indivíduo, há uma tendência a tocarem a mancha. Nessas espécies, os pesquisadores observaram que rola, de fato, um indício de consciência. Os últimos animais a passarem no teste foram 3 fêmeas de elefante de um zoológico de Nova York. Uma delas, vaidosa, ficou puxando a orelha com a tromba só para olhar melhor a parte de trás dela.

 

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