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Povos comemoravam o verão com peixe e álcool no Brasil pré-colonial

Segundo estudo, grupos indígenas se reuniam na Lagoa dos Patos, no atual Rio Grande do Sul, para celebrar a volta de peixes migratórios.

Por Manuela Mourão
22 fev 2025, 16h00

Peixe na brasa e cerveja gelada. O banquete é servido em qualquer praia brasileira nos meses de verão. O costume de se reunir para comer peixe e beber álcool existe há mais tempo do que você imagina: desde o período pré-colonial. Um novo estudo sugere que as pessoas tinham o hábito de festejar dessa forma nos meses de verão há mais de dois mil anos.

O costume não surpreende. Milhares de anos atrás, festas em períodos de calor já estavam enraizadas na sociedade – e o álcool já fazia parte da programação. Na Roma antiga, festivais como a Saturnália e a Lupercália já reuniam o povo para festejar os solstícios. Os gregos e egípcios antigos também celebravam seus deuses nesses períodos.

Analisando fragmentos de cerâmica de 2300 a 1200 anos atrás, um time internacional de pesquisadores, que conta com cientistas da Universidade Federal de Pelotas, descobriu que esse tipo de celebração também eram comuns no Brasil pré-colonial.

As cerâmicas foram encontradas na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. As margens da Lagoa são caracterizadas por montes de terra firme, conhecidos como “Cerritos”, construídos por ancestrais pré-coloniais dos grupos indígenas Charrua e Minuano.

De acordo com a pesquisa publicada no jornal científico Plos One, nessa época as bebidas fermentadas já eram produzidas na região. Elas eram feitas com algum tipo de vegetal, como palma, milho doce e tubérculos. Os vestígios etílicos foram encontrados nas cerâmicas, indicando uma das primeiras evidências do álcool no local. Os fragmentos também indicavam o consumo de peixes.

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Oliver Craig da BioArCh na Universidade de York explica em comunicado que, por meio de análise química, o time de cientistas determinou quais produtos estavam presentes nos vasos de cerâmica dos Cerritos, e também como as pessoas preparavam esses produtos. Dessa forma, descobriram a possibilidade da fermentação de bebidas.

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Para os autores do estudo, a descoberta prova que os Cerritos tinham um papel social de união de um povo. Marjolein Admiraal, que realizou a pesquisa na Universidade de York, sugeriu que as reuniões sazonais nos montes eram eventos culturais importantes e que marcavam a reunião de comunidades dispersas que se uniam para comemorar a volta de peixes migratórios. 

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“Esses eventos oferecem uma excelente oportunidade para atividades sociais, como funerais e casamentos, e têm grande significado cultural”, disse ela em comunicado.

O brasileiro Rafael Milheira, da Universidade de Pelotas, entende os Cerritos como uma combinação ritualística e doméstica. 

“Sabemos que grandes reuniões e festas eram eventos culturais importantes no passado (e hoje), em todo o mundo. E sugerimos que os povos pré-históricos da área teriam investido na produção de cerâmica em antecipação a essas reuniões que atraíam as pessoas para a Lagoa dos Patos para se alimentarem de recursos aquáticos sazonais.”

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Os autores ainda reforçam que a preservação dos Cerritos como patrimônio cultural pampeano único é essencial para o entendimento de sociedades do passado.

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