Primeiro computador do mundo era usado para prever o futuro
Uma mistura de Carl Sagan e Susan Miller - máquina de 2 mil anos de idade servia para astronomia e astrologia ao mesmo tempo.
Hoje em dia, astronomia e astrologia não se bicam, mas as duas áreas nasceram juntas, quando os antigos observavam o céu. A máquina de Antikythera, conhecida como o primeiro computador, foi criada para calcular e prever a posição dos planetas na Grécia Antiga, há mais de 2 mil anos. Ela sempre foi tratada como um equipamento astronômico. Mas um novo estudo revela que o mecanismo também tinha um pé na astrologia – e era usado para prever o futuro.
A máquina foi descoberta em 1902, próxima de um navio naufragado ao lado da ilha grega de Antikythera. Mas foi só em 1959 que começaram a entender para que ela servia: um professor de Yale percebeu que suas 30 engrenagens de rodas dentadas, ao estilo de um relógio, previam direitinho a posição em que o Sol e a Lua estariam em determinadas datas. Quarenta anos depois, Michael Wright, curador do Museu de Ciência de Londres, viu que a máquina também poderia localizar as posições de Mercúrio e Vênus e supôs que, se não estivesse tão danificada pelo tempo e pelo mar, saberia prever também onde estariam Marte, Júpiter e Saturno.
A partir daí, acabou a parte de astronomia da peça. O time internacional que estuda o artefato há quase vinte anos decodificou todas as inscrições em grego antigo feitas no objeto para descobrir mais sobre ele. E eles encontraram várias referências a eclipses solares. A conclusão é que a máquina era capaz de antecipar quando esses fenômenos iriam acontecer. O computador previa não só o eclipse, mas também suas características – tudo indica que a cor do eclipse, por exemplo, era vista como um sinal de que algo muito bom ou muito ruim estava prestes a acontecer.
Algumas pistas da cultura grega ajudam a imaginar o que os antigos pensavam quando viam diferentes eclipses. Um eclipse solar total, em que o Sol é coberto pela Lua e o resultado é escuridão total por alguns momentos, era visto como um sinal de raiva dos deuses, que trariam desastre e destruição em breve.
Os eclipses lunares são, por natureza, fenômenos coloridos. A lua vermelha, apelido de um eclipse lunar completo, também é associada à morte e ao sangue derramado, o que não é lá um auspício muito bom. Mas a lua amarela ou alaranjada talvez trouxesse pressentimentos mais positivos aos primeiros astrônomos-astrólogos.
Faltam outras peças da máquina para que as “profecias dos eclipses” possam ser interpretadas pelos cientistas. Eles terminaram de decodificar todos as inscrições da peça que já foi resgatada. A esperança do time é que outros cientistas encontrem novos fragmentos esquecidos no naufrágio.