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“Primo” do Tiranossauro-Rex é encontrado na Tailândia

Pesquisadores esperam que a descoberta incentive as pesquisas de paleontólogos locais

Por Manuela Mourão
17 ago 2024, 16h00

Cientistas tailandeses descobriram um dos primeiros fósseis de tiranossauro no sudeste asiático. A descoberta vem gerando altas expectativas na comunidade científica local, pois pode marcar o início de uma nova era de pesquisas paleontológicas na Tailândia e em seus países vizinhos.

 

O fóssil encontrado pertence à família dos Tyrannosauridae (ou tiranossaurídeos), grupo de predadores bípedes, que viveram entre 174 milhões e 66 milhões de anos atrás. O Tyrannosaurus rex, o maior e mais famoso dessa família, habitou a América do Norte muito depois do seu “primo” descoberto na Tailândia, um tiranossaurídeo menor, que viveu quase 100 milhões de anos antes do T-Rex.  

 

Wongwech Chowchuvech, paleontólogo da Universidade Kasetsart em Bangkok e coautor do estudo, publicado na Tropical Natural History em junho, identificou o fóssil a partir de dentes encontrados no sítio Phu Kradung, no norte da Tailândia. De acordo com ele, esse tiranossaurídeo pode estar relacionado ao Guanlong wucaii, um dos membros mais antigos da família, encontrado na China.

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Fósseis de tiranossauros já foram encontrados em várias partes do Hemisfério Norte, como China, Rússia e América do Norte, mas a descoberta na Tailândia sugere que esses dinossauros eram amplamente distribuídos pela Laurásia, o antigo supercontinente que incluía América do Norte, Groenlândia, Europa e Ásia.

 

Chowchuvech, entrou em contato pela primeira vez com os dentes no Museu Sirindhorn, em Non Buri, Tailândia. No meio de tantos fósseis, de várias partes do país, o pesquisador focou nos trazidos do sítio arqueológico Phu Kradung, que datam da era do Jurássico Superior e suspeitou que alguns daqueles dentes poderiam ser de tiranossauros.

 

Para confirmar sua hipótese, ele analisou três amostras que acreditava serem de terópodes, o grupo que inclui os tiranossaurídeos, utilizando a análise morfométrica, que consiste em avaliar o tamanho e a forma dos dentes. A comparação com um banco de dados existente confirmou que todas as três amostras pertenciam a um tiranossaurídeo.

 

O descobrimento do Thai-rex, apelido que o novo dinossauro recebeu pela comunidade científica, foi um dos poucos na região. Mesmo assim, abre os caminhos para paleontólogos tailandeses, que até então é financiada e conduzida por instituições estrangeiras, que limita o espaço dos locais. Por ter sido realizada por uma equipe de especialistas locais, espera-se que mais pesquisadores da região se sintam encorajados a explorar a história dos dinossauros em seus próprios territórios.

 

Daniel Lumbantobing, biólogo evolutivo da Sociedade Indonésia para Estudos Evolutivos, disse, para a revista Nature, que acredita que este achado inicial pode abrir portas para novas descobertas. “Encontrar um fósforo pode incendiar a floresta”, comenta, destacando o potencial inexplorado da região.

 

A falta de fósseis de períodos como o Paleozoico e Mesozoico (de 541 milhões a 66 milhões de anos atrás) em países como a Tailândia e Indonésia, é intrigante. Alguns cientistas questionam se essa ausência tem alguma explicação científica, mas Lumbantobing acredita que o principal motivo é a falta de recurso para pesquisas paleontológicas.

 

Nussaïbah Raja, paleontóloga da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, aponta em seu artigo que a pesquisa paleontológica em países de baixa e média renda é frequentemente conduzida por pesquisadores e instituições estrangeiras. No mesmo estudo, para a Nature Ecology and Evolution, Raja e seus colegas descobriram que 97% dos dados fósseis dos últimos 30 anos foram produzidos por países de alta renda, desequilibrando a pesquisa de paleontologia global. Esse cenário cria um, de acordo com a pesquisadora, um “viés de amostragem que distorce nossa compreensão da biodiversidade passada”.

 

Nos últimos cinco anos, paleontólogos treinados localmente começaram a investigar a história dos dinossauros na Tailândia. Chowchuvech reconhece a importância do conhecimento e das técnicas adquiridas de paleontólogos estrangeiros, que ao longo das décadas ensinaram e apoiaram os cientistas locais. “No passado, não tínhamos os conhecimentos e técnicas de pesquisa para conduzir nossas próprias investigações adequadamente”, indica o cientista para a Nature, mas acrescenta que acredita nas pesquisas regionais hoje em dia.

 

Raja e Chowchuvech acreditam que a pesquisa liderada por cientistas locais ajudará a diversificar e descolonizar a paleontologia. “Quando os pesquisadores locais conduzem a pesquisa, suas prioridades e interesses são colocados em primeiro lugar, como deveria ser”, afirma Raja.

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