Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Quem é o pai do Anak Krakatoa, o vulcão do tsunami na Indonésia

Conheça a história do Krakatoa — que não era um vulcão, e sim vários, e matou 36 mil pessoas no século 19.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 dez 2018, 13h31 - Publicado em 24 dez 2018, 13h15

O vulcão Anak Krakatoa — responsável pelo tsunami que, segundo o balanço mais recente, matou 281 pessoas e deixou mais de mil feridos na noite do último sábado (22) — é talvez o mais conhecido dos 76 vulcões ativos da Indonésia (são 147 ao todo).

Seu nome significa “filho de Krakatoa” — o pai, que entrou em erupção em 26 de agosto de 1883, foi responsável pela segunda erupção mais letal da história registrada: 13 mil vezes mais intensa que a bomba atômica de Hiroshima, deixou 36 mil mortos e causou o ruído mais alto registrado na história. Ele pôde ser ouvido a 4,8 mil quilômetros, quase a distância entre Porto Alegre e Caracas, capital da Venezuela. 

Ele expeliu muito, muito material. Uma enorme quantidade de dióxido de enxofre (SO2) pegou carona nos ventos de grande altitude e se espalhou por toda a atmosfera da Terra. Reações químicas posteriores com o novo “ingrediente” aumentaram a concentração de ácido sulfúrico (H2SO4) nas nuvens, que passaram a interagir a luz do Sol de maneira diferente. 

Resultado? Uma queda de 1,2 °C nas temperaturas médias do Hemisfério Norte no verão daquele ano – e meses à fio com o pôr do Sol mais exótico já registrado (a estrela chegou a parecer púrpura ou lavanda em certas regiões). Há quem afirme que o céu psicodélico, o frio e o clima deprê generalizado inspiraram o quadro O Grito, do expressionista Edvard Munch.

O Krakatoa, antes de se auto destruir, ficava em uma ilha chamada, bem… Krakatoa. Na verdade, o mais correto seria dizer que Krakatoa era o nome de uma ilha formada por vários picos vulcânicos conjugados uns aos outros. Vulcões “siameses”, ligados pelo nascimento.

Para entender, vamos voltar ao ensino fundamental. Você sabe que a Terra tem recheio. A camada mais externa, a crosta, é de rocha sólida (que bom, diga-se de passagem: você está em cima dela neste exato momento). A crosta tem, em média, 40 km, e não passa de 100 km nos pontos mais espessos.

Diretamente abaixo, porém, há uma camada bem mais espessa de rocha em estado líquido: o manto, com seus 2900 km de espessura. Magma puro, que chega a uns 900 ºC. Quase o verão em Recife.

Magma e lava são dois nomes da mesma coisa: a calda de rocha pastosa que compõe o manto. Da mesma forma que um meteoro muda de nome para meteorito quando colide com o chão, o magma passa a ser chamar lava quando é expelido e entra em contato com a superfície da Terra.

Continua após a publicidade

Quando aparece uma fissura na crosta no fundo do mar, o magma expelido se torna lava. A lava se solidifica em contato com a água e vira rocha. Essa rocha se acumula. E se acumula. Se acumula tanto que uma hora emerge acima da linha da água: bingo, temos uma ilha.

Conforme a ilha cresce para cima e para os lados, a rocha expelida e solidifica se assenta no formato de uma montanha. Assim surge o vulcão típico dos desenhos animados: um cone com um buraco particularmente quente no cume. Esse cone só existe, é bom deixar claro, graças ao acúmulo de lava solidificada após diversas erupções. Nenhum vulcão nasce com forma de cone, e nem todos os vulcões têm forma de cone.

De acordo com a Universidade do Estado de Oregon, nos EUA, a ilha de Krakatoa original era formada não por um, mas por três cones, que cresceram extremamente próximos uns dos outros: Rakata, Danan and Perbuwatan. Esses três não estavam lá desde sempre: nasceram em cima do cadáver de 7 km de diâmetro de um outro vulcão, que provavelmente foi destruído em 416 a.C. Em resumo, o Krakatoa pai tinha um pai, o avô do Krakatoa atual. 

Continua após a publicidade
Litogravura da explosão de 1883. (Parker & Coward/Domínio Público)

Essa abundância de vulcões é típica em todas regiões litorâneas que dão para o Oceano Pacífico, do Chile à Indonésia, passando por EUA e Japão. A essa faixa de atividade sísmica incomum dá-se o nome de Anel de Fogo.

A ilha de Krakatoa tinha 882 metros de altitude quando protagonizou a tragédia, em 1883. Costuma-se imaginar a erupção de um vulcão como o momento em que a lava é expelida pelo cume e escorre montanha abaixo. No caso do Krakatoa, porém, a montanha inteira (na realidade, a ilha inteira) explodiu, gerando tsunamis mais barra pesada que os deste final de semana. Dois terços da ilha simplesmente desapareceram. Sumiram do mapa.

É claro que lá embaixo, no leito do oceano, a lava não parou de ser expelida. Quase meio século após a tragédia — um período de silêncio incomum — o ciclo recomeçou. No vale submarino localizado entre os picos destroçados de Danan e Perbuwatan, emergiu lentamente um novo cone, que foi batizado de Anak Krakatoa, ou filho de Krakatoa. Esse cone já emergiu acima da linha da água e esta se tornando, lentamente, uma nova ilha.

Continua após a publicidade
krakatau_map
O mapa ajuda a entender a situação atual. A área transparente mostra os dois terços da ilha que foram destruídos em 1883. A parte marrom, o terço da ilha que ficou. o Anak Krakatoa está formando sua própria ilha em cima do local onde ficava a ilha original. (Simkin e Fiske, 1983, reproduzido da Universidade do Estado de Oregon/Reprodução)

De acordo com o Programa de Vulcanismo Global da Instituição Smithsonian, que faz relatórios semanais sobre a atividade de todos os vulcões do mundo, o Anak Krakatoa está em erupção lenta e constante desde 1928, construindo seu cone aos poucos. 

Os tsunamis deste final de semana foram mais um capítulo, um pouco mais conturbado que o comum, do crescimento de Anak Krakatoa. Ele já superou 300 metros de altitude e está mais ativo que a média desde junho do ano passado.

 

 

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.