Relâmpagos sábios
Prova disso é o novo trabalho do poeta e crítico Ferreira Gullar, Relâmpagos (Cosac & Naify), que entremeia poemas a ensaios críticos, e pode ser considerado um livro de sabedoria.
Veronica Stigger
Há um determinado tipo de intelectual que, ao atingir uma certa idade, conquista uma maturidade sábia. Por mais revolucionário que tenha sido na juventude, ao envelhecer vai se tornando mais sereno. Talvez porque, depois de ter angariado um reconhecimento quase unânime, sabe que não há mais necessidade de provar nada a ninguém. No Brasil, são poucos os espécimes do gênero, mas eles existem. Prova disso é o novo trabalho do poeta e crítico Ferreira Gullar, Relâmpagos (Cosac & Naify), que entremeia poemas a ensaios críticos, e pode ser considerado um livro de sabedoria.
Neste belo volume, Gullar não está interessado em defender teses ou demonstrar sua capacidade analítica. Suas curtas críticas mostram que ele já deixou para trás as polêmicas e alcançou uma serenidade que lhe permite ir ao essencial. Os pequenos textos sobre obras específicas – Mona Lisa, Les Demoiselles d’Avignon etc. – e sobre os mais diversos artistas – Michelangelo, Cézanne, Picasso, Lygia Clark e outros – vão direto ao cerne da questão. Como Gullar ressalta no prefácio, sua preocupação é tentar fixar aquele instante – o tal relâmpago – em que as obras de arte capturam o nosso olhar e, principalmente, buscar traduzi-lo em palavras. Consegue muito mais do que isso: reeduca o olhar de seus leitores.