Taissa Rodrigues estuda embriões de pterossauro fossilizados dentro dos ovos
A #MulherCientista desta semana foi à China em 2017 estudar uma das mais valiosas coleções de répteis pré-históricos já encontradas.
Toda criança fascinada por dinossauros já pensou em ser paleontóloga. A maioria acabou tomando outros rumos profissionais, mas Taissa Rodrigues (com o perdão do trocadilho) não largou o osso. A pesquisadora fez faculdade de Biologia com o intuito de estudá-los, e acabou gravitando para outros parentes répteis não menos interessantes: os pterossauros.
Taissa está interessada em responder duas perguntas principais: quantas espécies de pterossauros existiram e os hábitos delas. Cerca de 250 espécies já foram descritas pelo mundo, e a ideia é aumentar esse número (ou diminuí-lo, afinal, fósseis são revisados e reclassificados constantemente).
Para determinar se um fóssil pertence a uma espécie nova, é preciso compará-lo ao maior número possível de fósseis que já existem, e mapear as semelhanças e diferenças entre eles.
Uma boa dica é começar pelo crânio. Mandíbula, dentes e focinho podem indicar não só espécies distintas, mas também os hábitos alimentares de cada uma delas.
Taissa estudou pterossauros que possuem uma crista no focinho, e o tamanho dessa característica anatômica é importante para diferenciá-los.
O problema é que mesmo as cristas de tamanhos e formatos distintos podem pertencer a uma mesma espécie de pterossauro, mas em diferentes fases da vida.
Nesse caso, os pesquisadores podem chegar à conclusão que duas espécies já descritas são, na verdade, uma só. Fósseis que representam diferentes estágios da vida de uma só espécie de pterossauro permitem estudar como eram a infância, a juventude e a vida adulta desses animais.
Assim, encontrar um embrião de pterossauro é como ganhar na loteria. E encontrar 215 ovos com 7 embriões bem preservados equivale a ganhar sozinho na mega da virada. Pois esse foi o prêmio de Taissa.
Ela participou do grupo de pesquisa que estudou um ninho de pterossauros da espécie Hamipterus tianshanensis no deserto de Gobi, na China, em 2017. A pesquisa fez parte de uma colaboração internacional entre cientistas brasileiros e chineses.
Foi a maior quantidade de ovos e embriões de pterossauros já encontrada. “Como eles eram animais voadores, o esqueleto era muito leve, oco por dentro. É muito raro encontrar esses embriões bem preservados”, diz a pesquisadora.
Ela foi até Pequim para estudá-los de perto e fazer tomografias dos filhotes. As análises permitiram concluir, por exemplo, que os filhotes já nasciam sabendo andar, mas ainda não conseguiam voar.
Além dos ovos, a equipe de pesquisa encontrou centenas de ossos e crânios de exemplares adultos da mesma espécie de pterossauro, de ambos os sexos e das mais variadas idades.
A descoberta também revelou que os ovos de pterossauros possuíam casca mole – e isso explica porque é tão difícil encontrá-los bem preservados. Os pesquisadores acreditam que os ninhos dessa região tenham sido soterrados por areia após uma tempestade, criando condições únicas para a preservação.
Atualmente, Taissa também está envolvida em um projeto de pesquisa sobre mulheres na paleontologia. “Muitos grupos não convidam mulheres para fazer trabalho de campo por acharem que elas são fracas, não vão ter força para carregar peso e quebrar rocha. E isso faz uma grande diferença na carreira delas”, diz a paleontóloga. Hoje, Taissa Rodrigues é professora da Universidade Federal do Espírito Santo.