Tinta fluorescente desmascara uísque falsificado
Em laboratório, cada amostra de destilado muda a tinta de maneira única – e essas variações podem ser usadas como uma impressão digital do uísque original
Um cientista é um recluso – de preferência abstêmio e sempre de óculos e avental. Certo?
Errado. Às vezes ele é só um cara que compra mil euros em uísque. E depois, em um momento digno d’O Lobo de Wall Street, mistura a bebida com tinta fluorescente.
O químico Uwe Buntz e seus colegas da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, desenvolveram um método de análise de uísque capaz de revelar a idade, a origem e a mistura de grãos (blend) da bebida destilada com uma precisão inédita. Toda a mágica acontece quando algumas gotas são misturadas a vários pigmentos que brilham no escuro. Só tem um problema: para fazer os testes, eles precisaram de muitas algumas garrafas – e acabaram pagando por elas.
“A discriminação simples de analitos complexos (bebidas, gêneros alimentícios, remédios sujeitos a receita médica etc.) é importante por razões econômicas e de saúde”, justificou Buntz, da forma mais sóbria possível, na introdução do artigo científico. Parece sério, mas não foi o suficiente para convencer o governo alemão a financiar a pesquisa. “Nós usamos nosso próprio dinheiro, é claro”, afirmou o cientista à Popular Science. “Você não pode simplesmente usar dinheiro público para isso, eu acho que o pessoal do governo não ficaria nada feliz.”
O truque é o seguinte: quando o destilado entra em contato com a tinta – solúvel em água, em geral verde ou azul – ele reage, aumentando ou diminuindo o brilho dela. A maneira como a tinta é afetada depende de sua cor e composição química, então cada uma das combinações entre uísque e tinta terá uma “impressão digital” única. Aplique o mesmo uísque a quatro tintas diferentes e você terá um conjunto de quatro brilhos diferentes, que só aquele uísque é capaz de gerar.
Bingo – agora aquela bebida específica tem o equivalente a uma carteira de identidade, que pode ser usada inclusive para desmascarar falsificações. Afinal, uma imitação pode até tentar simular a cor e o sabor de um original, mas é impossível copiar, detalhe por detalhe, suas características químicas (será esse um bom hobby para Walter White?).
O método é um dos mais eficiente já criados, e atraiu tanto empresas privadas quanto órgãos de fiscalização (uma fabricante de bebidas alemã chamada Sonnländer já demonstrou interesse). Ele só tem um problema: para funcionar para valer, precisa de um grande input. Quanto mais bebidas de diferentes anos e marcas forem testadas, melhor os cientistas serão capazes de entender como cada ingrediente e o tempo afetam o brilho da tinta. Por isso, Buntz chutou o balde e levou 30 garrafas para o laboratório.
Agora elas estão em sua casa. Aguardando as visitas – ele diz não ser tão fã de destilados, e preferir vinho tinto.
Os resultados científicos foram bons, sem dúvida: dos 120 testes, a análise só deu errado em quatro deles. Para ficar infalível, o jeito é adicionar mais informações de entrada – aumentando a quantidade de uísques no banco de dados e adicionando uma ou duas faixas de tinta extras. Os pesquisadores ainda não sabem se, no futuro, será possível criar uma grande biblioteca de amostras. A bebida pode reagir com a tinta de formas diferentes em outros laboratórios e países – o que invalidaria os resultados.
Seja como for, a ideia foi plantada, e aperfeiçoá-la é uma questão de tempo. Vai querer um drink azul ou verde?