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Você enxerga melhor na hora do pôr do sol – e agora sabemos o motivo

Seu cérebro faz isso automaticamente – e ainda bem, porque pode ter sido importante para a sobrevivência da espécie.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 abr 2018, 18h36

Talvez você nunca tenha reparado, mas a sua sensibilidade para enxergar detalhes fica melhor em alguns horários do dia. Esse fenômeno foi comprovado – e explicado – por um novo estudo da Universidade de Frankfurt.

Os pesquisadores fizeram alguns testes de percepção (que avaliavam o quão boas as pessoas eram em captar detalhes de imagens) com voluntários enquanto eles passavam por exames de ressonância magnética.

O objetivo da ressonância era captar a atividade cerebral no córtex visual, responsável por interpretar os sinais enviados pelos olhos. O exame fez imagens do cérebro em dois momentos: em repouso e em um momento de concentração.

O foco dos pesquisadores era entender o que acontece no córtex visual quando não estamos fazendo nada. Afinal, a menos que você feche os olhos, eles continuam mandando sinais para o cérebro, mesmo que você não esteja observando nada específico.

O que os cientistas detectaram no estado de repouso, portanto, é uma espécie de “ruído de fundo” produzido pelo cérebro. Naturalmente, quanto mais ruído de fundo cerebral, mais difícil é prestar atenção a um estímulo visual específico.

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Os testes foram repetidos várias vezes, em seis horários diferentes do dia. E o que ficou claro é que o cérebro, automaticamente, reduz a quantidade de ruído de fundo em dois momentos específicos: o nascer e o pôr do sol.

Como consequência, os testes de percepção dos voluntários também iam melhor nesses horários. A visão dos participantes ficava especialmente sensível conforme o ruído de fundo diminuía – e eles eram capazes de detectar até os pontos luminosos mais sutis no meio de uma imagem.

É como se, com a diminuição do ruído, ficasse mais fácil detectar sinais fracos – e, de alguma forma, o nosso ritmo circadiano (o relógio biológico) aprendeu a fazer isso todos os dias, em certos horários do dia.

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A explicação para o fenômeno, é claro, está na evolução: esse comportamento tão estranho só seria automatizado no cérebro se, de alguma forma, nos trouxesse alguma vantagem.

E não é difícil imaginar qual: o crepúsculo era um horário especialmente tenso para humanos em estado selvagem. É o momento em que os perigos ficavam menos visíveis.

No escuro da noite, tanto predador quanto presa não enxergam nada. Mas na luz fraca do início e do fim do dia, o predador tenderia a levar vantagem.

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Sorte dos primeiros humanos cujo cérebro tinha menos “ruído visual de fundo” nesses horários – o que, provavelmente, fez com que eles sobrevivessem em números maiores, passando adiante esse upgrade cerebral.

Sabemos – em parte graças a um Prêmio Nobel de 2017 – que o ritmo circadiano tem raízes genéticas profundas. Mas ninguém tinha investigado de que forma ele afeta a visão.

O estudo, aliás, dá a letra para pesquisas futuras: além do córtex visual, a ressonância detectou padrões parecidos nas regiões cerebrais responsáveis pela audição e pelo tato. Ou seja: é possível que o pôr do sol seja o horário de pico para boa parte dos sentidos humanos.

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