Vulcão nas Ilhas Canárias: a erupção pode causar um tsunami no Brasil?
A erupção na ilha de La Palma começou no domingo (19) e deve se estender por semanas. Mas pode ficar tranquilo: as chances do evento ressoar por aqui são baixíssimas. Entenda.
No último domingo (19), o vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha La Palma do arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, que ficam próximas ao litoral noroeste da África, entrou em erupção – o que forçou a retirada de cerca de cinco mil pessoas da região. É a primeira vez desde 1971 que isso acontece nesse complexo vulcânico.
Por ora, não há registros de mortes. O vulcão, vale dizer, já estava sob vigilância, já que mais de 22 mil tremores foram detectados na região durante a última semana. Antes da erupção, foram registrados terremotos que atingiram 3,8 na Escala Richter, que mede a magnitude de atividades sísmicas – é um valor considerado pequeno.
Do outro lado do Atlântico, o evento também preocupou, já que se questionou se a erupção poderia provocar tsunamis na costa do nordeste brasileiro. Mas para entender se isso é possível, é preciso, antes, compreender a atividade vulcânica de La Palma.
Tiro, porrada e lava
Segundo o professor Fabio Machado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a atividade vulcânica em La Palma é comum, e o vulcanismo encontrado por lá é do tipo “escudo”. Vulcões escudo expelem grandes quantidades de lava, bastante quente e fluida, e são caracterizados por largas montanhas. É o mesmo tipo dos conhecidos vulcões havaianos.
Para acontecerem as erupções, o magma do manto terrestre se acumula sob a crosta terrestre. Com aumentos de temperatura e pressão, o material vulcânico rompe o topo da cratera – e aí, é lava e rocha (em pó ou na forma de grandes fragmentos) para todo lado.
O vulcão de La Palma continua ativo nesta segunda-feira (20), e há um “rio” de lava que está avançando a 0,7 quilômetro por hora, segundo as autoridades locais, destruindo casas e florestas.
Ainda não se sabe por quanto tempo a erupção do Cumbre Vieja vai durar. Em 1971, foram cerca de três semanas. O Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias tem monitorado a liberação de enxofre do vulcão, para analisar a evolução e tentar prever o fim da erupção – que pode durar semanas.
Riscos de tsunami
Tsunamis podem ser desencadeados tanto por sismos no oceano quanto por atividade vulcânica. Nesse segundo caso, as ondas gigantescas surgem a partir de explosões freáticas (erupções de vulcões submersos no oceano) ou de material piroclástico – o lançamento de grandes rochas (como fragmentos da cratera) ao oceano.
É como uma piscina: dá para agitar a água se mexendo lá embaixo – ou pulando nela.
Segundo Machado, existem estudos científicos baseados em modelos matemáticos que afirmam que há riscos de um tsunami atingir o Brasil caso houvesse um forte evento vulcânico nas Ilhas Canárias. Mas eles já foram contestados por outras pesquisas mais recentes.
Para que uma erupção ocorrida no arquipélago espanhol desencadeasse temíveis ondas em direção à costa brasileira, seria necessário cerca de 500 quilômetros cúbicos de material piroclástico. “É o equivalente a 50 mil estádios do Maracanã”, explica o professor à Super. “É muito improvável chegar a esse volume.” Todas essas pedras deveriam, ainda, cair só do lado oeste da ilha para formar ondas gigantes capazes de nos atingir do lado de cá do Atlântico.
Machado ressalta que ainda não há registro de ocasiões de ressaca marinha por aqui ocasionadas por atividade vulcânica das Ilhas Canárias, e que erupções por lá têm muito mais chance de causar danos à Europa Ocidental ou à costa oeste africana. Bem longe de nós.