A Geração Y não existe – nem ela nem nenhuma outra
Li agora mais uma matéria sobre o “mimimi” da Geração Y. Sobre como são todos mimados, superficiais, ególatras, insolentes. “Geração Y” é quem nasceu nas décadas de 80 e 90, certo? Bom, há 20 anos, quando os millennials ainda precisavam de ajuda paterna para se livrar do próprio cocô, as matérias eram sobre outra geração, […]
Li agora mais uma matéria sobre o “mimimi” da Geração Y. Sobre como são todos mimados, superficiais, ególatras, insolentes.
“Geração Y” é quem nasceu nas décadas de 80 e 90, certo? Bom, há 20 anos, quando os millennials ainda precisavam de ajuda paterna para se livrar do próprio cocô, as matérias eram sobre outra geração, a “X”, a de quem tinha por volta de 30 anos na década de 90.
E era a mesma coisa: esses nascidos no final dos anos 60, comecinho dos 70, eram os mimados, superficiais, ególatras, insolentes.
Eram eles que, segundo os cabeças da época, “não paravam em nenhum emprego”, “não queriam saber de nada”. Boa mesmo era a geração de quem escrevia essas teses, a que tinha “criado a contra-cultura dos anos 60″.
E esses “criadores da contra-cultura”, que tinham 20 e poucos nos anos 60? Os formadores de opinião da época, bem mais velhos, que tinham passado pela Segunda Guerra e se sentiam os belezões, o ápice da espécie humana, diziam que essa molecada que ouvia Stones, tomava ácido e, em vez de fazer carreira numa corporação, se entregava a uma vida dionisíaca e inconsequente, formava uma geração, claro, mimada, superficial, ególatra e insolente.
O pessoal do ácido hoje tem 70 anos. Seus filhos, mais de 40. E os netos deles, nascidos no século 21, formam aquilo que há muito já ganhou o rótulo de “Geração Z”.
A Geração Z ainda é adolescente. Mas algo me diz que, quando eles chegarem nos 20 e tantos, vão ser rotulados pelos millennials de hoje. A Geração Y, do alto dos seus quase 40 anos, vai notar que a Z, puta merda, é uma geração mimada, superficial, ególatra, insolente.
Aí das duas uma. Ou estavam todos certos, e cada geração só piora, ou essas análises sempre foram ilusórias. E tudo o que realmente houve foi gente mais velha confundindo a própria decadência com uma imaginária decadência do mundo.
Fico com a segunda hipótese.