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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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As vacinas: fruto da cooperação – e da competição

O início da vacinação já é um marco na história da humanidade. Mérito do esforço conjunto entre os agentes, e mais ainda da competição entre eles.

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Atualizado em 18 dez 2020, 09h56 - Publicado em 18 dez 2020, 09h12

“Milhares de pessoas colaboraram para produzir este lápis”, diz o Nobel de Economia Milton Friedman, em um vídeo dos anos 1970, enquanto sacode um lápis daqueles com borrachinha em cima. A madeira do lápis, ele diz, veio da América do Norte; o grafite, da América do Sul, a borracha, da Malásia. “São pessoas que não falam a mesma língua, que praticam religiões diferentes, que talvez odiassem umas às outras se um dia se encontrassem. Mas elas trabalharam juntas de alguma forma, para que você pudesse ter um lápis a um preço irrisório.

Friedman adorava usar esse exemplo para defender seu ponto de vista sobre a economia. “Por isso que o livre mercado é tão essencial. Não só pela produtividade e pela eficiência. Mas por promover harmonia entre os povos do mundo.”

O espírito do lápis de Friedman ajuda a explicar um dos acontecimentos mais relevantes em todos os tempos: o desenvolvimento de vacinas eficientes contra a Covid-19. Lembre-se: a vacina desenvolvida em menos tempo até hoje foi a da caxumba. Quatro anos. As de agora estão chegando em menos de um. Outra: a vacina contra a caxumba foi, em grande parte, fruto do esforço individual de um cientista: Maurice Hilleman, que se dedicou a encontrar um imunizante depois de a filha ter pegado a doença – e depois que um laboratório concorrente ao seu tinha lançado uma vacina contra o sarampo.

Agora a história é diferente por um lado e parecida por outro. Não existe um herói solitário. As vacinas contra a Covid são fruto da cooperação mútua entre governos, indústria farmacêutica, universidades, institutos. E da competição também. 

Os EUA pagaram mais de US$ 1 bilhão para o desenvolvimento e a manufatura em larga escala das vacinas da Pfizer, de Oxford, da Jansen e da Moderna, por exemplo.

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Claro que havia um interesse competitivo dos EUA aí – o de colocar o país na frente da fila do posto de vacinação global. Mesmo assim, acaba sendo um esforço colaborativo também. A vacina de Oxford, acelerada pelo dinheiro americano, também será produzida no Brasil, pela Fundação Oswaldo Cruz.

A história da chinesa CoronaVac, que será fabricada pelo Instituto Butantan, é parecida. A Sinovac, empresa que desenvolveu o imunizante, começou a receber fundos do governo chinês ainda em 2003, para o desenvolvimento de uma vacina contra a Sars – também provocada por um coronavírus, o que pavimentou o caminho para o desenvolvimento rápido da CoronaVac.

O Brasil, mesmo com o negacionismo do chefe do executivo e o vácuo de autoridade no Ministério da Saúde, também participou desse esforço global ao abrigar testes clínicos para as vacinas da Pfizer e da Jansen, além da CoronaVac e da de Oxford. E também deu sua contribuição para a tese de que a competição é um dos motores nessa história: a batalha política entre São Paulo e Brasília deve adiantar o início da vacinação no país.

Em suma, estamos em um momento de cooperação e de competição jamais vistas em tempos de paz. Mais do que isso: um momento em que interesses altruístas e egoístas meio que juntaram as forças. E o fruto da união desses estímulos díspares tem tudo para varrer a Covid da Terra. Uma bela amostra daquilo que a natureza humana é capaz.

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