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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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O curioso caso do coronavirus que amansou

No século 19, o coronavírus OC43 pode ter causado uma pandemia global. Ele segue entre nós, mas numa versão branda. Será esse o futuro do Sars-Cov-2?

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 jun 2021, 13h56

O surgimento de alguma variante capaz de resistir às vacinas não é carta fora do baralho. E seria a pior notícia possível, claro. Mas a tendência é outra, ao menos para o longo prazo. 

O “objetivo” de um vírus, conforme evolui, não é matar. É garantir a própria sobrevivência. E a melhor forma de fazer isso é conviver com o hospedeiro sem lhe causar um grande mal – ou seja, sem destruir o organismo onde mora.

Existem sete tipos de coronavírus que atacam humanos (cada um com suas variantes). O Sars-CoV-2, que gerou a pandemia atual, é só o mais recente. Outros dois causaram as epidemias de Sars (entre 2002 e 2004) e de Mers (a partir de 2012). O mais poderoso é o da Mers – sigla em inglês para “síndrome respiratória do Oriente Médio”. Ele mata 34% dos infectados. Dez vezes mais que o Sars-CoV-2. 

Mas isso significa que o Mers-Cov é um vírus malsucedido: mata tanto que quase não consegue se espalhar. Só foram reportados 2.500 casos até hoje. Mau negócio para o vírus, que tende à extinção.

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Na outra ponta, a dos coronavírus mais bem-sucedidos, estão os quatro restantes: o 229E, o NL63, o HKU1 e o OC43 (perdão pelo excesso de siglas). Eles não matam. Só causam resfriados comuns – você provavelmente já foi infectado por todos eles. É possível, inclusive, que esses coronavírus tenham nascido tão ou mais mortais quanto o Sars-Cov-2, e depois evoluído para versões brandas. 

Há evidências de que o OC43 tenha sido um deles. Em 1889, o mundo foi acometido por uma epidemia hoje pouco lembrada: a da Gripe Russa – houve outra com esse mesmo nome em 1977, mas não há relação entre ambas. Essa do século 19 começou no Uzbequistão, chegou à Europa, migrou para a América do Norte e matou pelo menos 1 milhão de pessoas ao longo de dois anos – o Sars-Cov-2 já tirou 3,5 milhões de vidas, mas vale lembrar que a população mundial hoje é cinco vezes maior.  

A Gripe Russa sempre foi atribuída a alguma mutação devastadora do influenza, o vírus da gripe. Mas hoje sabemos, graças a estudos de DNA, que o OC43 saltou de animais para humanos justamente no final do século 19. E relatos da época mostram que alguns sintomas da Gripe Russa eram semelhantes aos da Covid.  

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É possível, então, que o OC43 tenha surgido como um vírus assassino, e se tornado inofensivo após uma série de mutações. Esse pode ser o caminho natural do Sars-CoV-2, ainda que leve anos. Essa tendência biológica, aliada ao crescimento da cobertura vacinal pelo mundo, nos mostra que há um fim nesse túnel. Que haja luz ali.

Luz, aliás, é o que a matéria de capa deste mês lança sobre um tema espinhoso: a possibilidade de que o vírus da Covid tenha escapado por acidente do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, dada a quantidade de elementos que apontam para isso.

“Que uma coisa fique clara: nenhum deles é suficiente para dizer que o Sars-CoV-2 tenha surgido em laboratório”, avisa o editor Bruno Garattoni, autor da reportagem. “O que eles permitem afirmar, com segurança, é que essa hipótese precisa ser investigada – algo que 14 países, incluindo EUA, Reino Unido, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Israel, defendem.”

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Garattoni apresenta esses elementos a partir da página 20, num trabalho exemplar de jornalismo científico, e que já tem lugar cativo entre os mais relevantes da história da Super. Boa leitura.

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