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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Por que tudo custa mais caro no Brasil

Carro é esse aí em cima, não é aquilo que eu tenho lá em casa. Só apresentando: Ferrari 458 Spider, leitor. Leitor, Ferrari 458 Spider – o carro de 2 milhões de reais. Bom, isso é o que ela custa no Brasil. Lá fora é diferente. Que os preços são bem melhores no exterior todo […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 ago 2024, 11h40 - Publicado em 31 jan 2013, 15h05

Carro é esse aí em cima, não é aquilo que eu tenho lá em casa. Só apresentando: Ferrari 458 Spider, leitor. Leitor, Ferrari 458 Spider – o carro de 2 milhões de reais. Bom, isso é o que ela custa no Brasil. Lá fora é diferente. Que os preços são bem melhores no exterior todo mundo sabe. Até o meu amigo João Lucas. Pro João, meia dúzia de camisetas do AC/DC já é algo que dá pra chamar de guarda-roupa completo – mais do que isso é frescura. Aí ele foi fazer um curso no Texas e acabou comprando mais roupa nova do que a Imelda Marcos comprava de sapato. O João não acreditava que camisas, calças e tênis pudessem custar tão pouco. Você conhece histórias parecidas, eu sei.

Agora, se praticamente não faz mais sentido comprar roupa, maquiagem ou carrinho de bebê no Brasil, como fica então o caso da Ferrari aí em cima? Fica assim: com o dinheiro que ela vale aqui, dá para comprar um apartamento em Nova York, um helicóptero, mais uma Ferrari. Sério: o apto, o helicóptero e, de troco, a 458 Spider em pessoa.

A  bichinha custa R$ 510 mil nos EUA, contra precisamente R$ 1.950.000 no Brasil. Bom, este apartamento, no bairro do Queens, está a venda por R$ 710 mil. Este helicóptero, com ar-condicionado e banco de couro, sai por R$ 670 mil. E nem é a pechincha do século: qualquer helicóptero semi-novo dessa marca custa nessa faixa lá fora. Somando tudo, dá só R$ 1.890.000. Ou seja: ainda sobram R$ 60 mil de chorinho… Oê! Quem quer dinheiro?!

O governo. O governo quer dinheiro. E cobra impostos nórdicos para isso. Por isso mesmo a culpa pelos preços altos no Brasil geralmente acaba no colo dos impostos. Faz sentido? Vamos ver: nosso imposto de importação é um assalto perto do dos EUA. Lá é de 2,5%. Aqui, 35%. Como a Ferrari é importada tanto aqui como lá, só isso já começa a dar diferença. Bom, depois que o carro entra no Brasil vem aquele corredor polonês de impostos: 55% de IPI, 25% de ICMS, 9% de PIS/Cofins, 5% de INSS, X% pra Nossa Senhora de Aparecida… Sai de baixo.

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Mas não. Eles não são tão vilões assim. Mesmo depois de passar pelo banho de tributos ele sai custando um pouco mais que o dobro do que nos países com impostos menos escorchantes – não quatro vezes mais.

Então o que justifica os R$ 1.950.000? Bom, às vezes tamanho é documento… Tem a diferença no volume de vendas. Os americanos compraram 1.958 Ferraris em 2011. Os brasileiros, 64. Aí é comparar atacado com varejo. Claro que uma Ferrari vai ser mais barata em Los Angeles do que em São Paulo: lá fora o dono da concessionária lucra na quantidade. Aqui tem que embutir mais lucro em cada carro pro negócio valer a pena. Não tem jeito.

Mesmo assim, ainda fica difícil justificar os quase R$ 1,5 milhão de diferença. Mas vem cá: quem precisa justificar? As coisas valem o que as pessoas estão dispostas a pagar. Nos EUA e na Europa, estão dispostos a pagar na faixa de R$ 500 mil pela Spider. Na China, R$ 1 milhão. Aqui, R$ 2 milhões. É do jogo. Mas e aí? Faz sentido pagar tanto num carro? Isso é outra conversa. E se você não tem 2 milhões sobrando, não precisa dormir com esse problema.

Não tá fácil pra ninguém…
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Só que vale lembrar: comprar coisa cara não é crime de lesa-sociedade. Os milhões do sujeito não se desintegram se ele gastar tudo num carro em vez de doar pro Criança Esperança. Se o dono da concessionária usar o lucro para abrir uma rede de esfiharias, vai dar emprego pra um monte de gente, certo? E vai matar a minha fome também. Então beleza. Valeu.

O problema mesmo nessa história é que a realidade do mercado de luxo hardcore se reflete aqui no andar de baixo. No México, por exemplo, o Honda City é um carro importado. Não do Japão, mas de Sumaré, uma cidade da região de Campinas, SP, onde tem uma fábrica da Honda.

O City sai de Sumaré, vai para o porto de Santos, navega 8 mil km num contêiner e chega às concessionárias mexicanas custando R$ 33.500. Aqui, o mesmo carro, da mesma fábrica, custa R$ 53.600. Aí só afogando as mágoas.

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Sim os impostos no México são menores. Mas nem tão menores. Lá, 20% do preço total de um carro são impostos. Aqui é entre 30% e 40%. Não explica os R$ 20 mil de diferença.

A explicação está na resposta para esta pergunta: você pagaria R$ 6 mil numa geladeira? Uma família de classe média até tem como pagar R$ 6 mil numa geladeira – nem que seja financiando e parcelando a perder de vista. Mas não. Não paga. As pessoas acham R$ 6 mil demais para uma geladeira. Mas com carros tudo muda de figura. O brasileiro típico ainda acha normal hipotecar a vida num carro. E com a subida na renda média nos últimos anos, R$ 50 mil, R$ 60 mil já parecem um preço ok por um carro razoável. Mas não. Isso é preço de Mercedes lá fora.

Também não adianta por a culpa no volume de vendas, que justifica parte do preço pornográfico dos carros de luxo. O Brasil já é o quarto maior mercado de automóveis no mundo, atrás só dos EUA, da China e do Japão. Acabou de passar a Alemanha. O problema é que, no quesito bom-senso, ainda estamos na parte debaixo do ranking. Noção de valor é o que eles têm lá fora, não isso que temos aqui em casa.

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PS.1: Chegou a versão eletrônica do meu livro na Amazon (mais barata que a de papel, olha só o bom-senso). Aqui:

 

PS.2: Quem gosta de receber atualizações de blog por e-mail (coisa que o Google Reader não permite) pode usar este site, Blogtrottr. É só entrar lá e colocar o endereço do feed do blog que vc quer seguir (o deste é super.abril.com.br/blogs/crash/feed/) e o seu e-mail. Funciona direitinho.

 

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