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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Tudo dura para sempre

A Teoria da Relatividade mostra que cada momento das nossas vidas está impresso no tecido espaço-tempo. Isso pode servir de consolo em momentos de despedida, como o de agora.

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15 mar 2024, 14h00

“Imagine tudo o que está acontecendo agora, neste segundo. Você acaba de piscar o olho. Uma moeda afunda na Fontana di Trevi, em Roma. Mick Jagger escova os dentes. O Sol se põe num vale de Marte. Alguma forma de vida de uma galáxia muito, muito distante, acorda para ir trabalhar.”

Este é o início de um texto que escrevi para a Super em 2011, para mostrar um experimento mental de Brian Greene, físico e gênio da divulgação científica.

A ideia ali é fazer um retrato instantâneo do Universo inteiro. Mais importante: fingir que dá para fazer isso. Se houvesse um telescópio com potência suficiente para observar um habitante da galáxia de Andrômeda saindo de casa, você saberia que isso é parte de um passado distante. Aconteceu há 2,5 milhões de anos – o tempo que a luz dos componentes da galáxia de Andrômeda leva para chegar até aqui.

Mas Greene propõe deixar de lado essa limitação física. Pede para que a gente imagine o que estaria acontecendo de fato pelo Cosmos neste exato momento, como se essas informações fossem realmente acessíveis.

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E vai mais longe: também pede para que alguém de outra galáxia faça o mesmo exercício ao mesmo tempo. Na imagem mental do alienígena, então, estará você piscando os olhos, Mick Jagger escovando os dentes… Normal. É o “agora” do Universo, só que do ponto de vista dele.

Mas tem um detalhe: se o alienígena se levantar para pegar um copo d’água, tudo muda de figura. Entra em cena a Relatividade. Einstein descobriu que o movimento altera o ritmo com que o tempo passa. No dia a dia é impossível observar qualquer coisa nessa linha (você precisaria se mover a uma velocidade próxima à da luz, 1,08 bilhão de km/h, para testemunhar qualquer estranheza).

Só que distâncias intergalácticas amplificam o efeito. Uma caminhada de 10 segundos a 5 km/h feita em outra galáxia pode transportar o “agora” lá do alienígena para o século 23 daqui da Terra. Significa o seguinte: a imagem mental dele sobre esse exato instante do Universo passará imediatamente a incluir fatos que, para nós, ainda estão em aberto, como os vencedores das próximas 20 eleições presidenciais e as datas em que eu e você vamos morrer.

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Greene usa esse exercício para mostrar uma característica da Relatividade. Se aquilo que para a gente é o futuro pode ser o presente para outro ser (ainda que imaginário), a passagem do tempo é uma ilusão. O Universo seria um grande “tudo ao mesmo tempo agora” – com um amanhã que já aconteceu e um passado que segue vivo, pois será o futuro de outro observador.

“Não há fluxo”, diz Greene. “Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. Se você estava se divertindo no Réveillon, você ainda está lá, pois esta é uma das localizações imutáveis do espaço-tempo.”

Deixo essa reflexão porque estou me mudando para outro ponto do espaço-tempo. Um em que não sou mais parte da equipe da Super. Comecei como repórter há 22 anos, e por quase uma década fui o diretor de redação, de 2016 a 2024. Vou agora para um projeto novo. Agradeço profundamente aos dirigentes da Editora Abril, pelo apoio e pela generosidade, aos meus colegas de redação e, acima de tudo, a você, leitor da Super – que é a nossa razão de existir, e ficará sob os cuidados de uma equipe fantástica. Fecha-se um ciclo. Mas, de alguma forma, sempre estarei aqui.

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