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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

Células T mantêm a potência contra as novas variantes do coronavírus

O sistema imunológico não é feito só de anticorpos: também depende de outros elementos, como as células T. E testes de laboratório revelam que essas células não perdem força ante as novas variantes do Sars-CoV-2 - incluindo a cepa brasileira P.1

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Atualizado em 6 set 2024, 09h34 - Publicado em 10 mar 2021, 15h41

O sistema imunológico não é feito só de anticorpos: também depende de outros elementos, como as células T. E testes de laboratório revelam que essas células não perdem força ante as novas variantes do Sars-CoV-2 – incluindo a cepa brasileira P.1

Nos últimos dias, alguns estudos científicos trouxeram boas notícias para a luta contra o Sars-CoV-2. Dados preliminares apontaram que tanto a Coronavac quanto a vacina da AstraZeneca são eficazes contra a variante P.1, que surgiu em Manaus e está se espalhando pelo Brasil (a vacina da Pfizer também se mostrou eficaz contra ela). E uma experiência indicou que as células T, um elemento-chave do sistema imunológico, mantêm a potência contra quatro novas cepas do vírus, incluindo a P.1.     

Quando a pessoa é infectada pelo coronavírus, o corpo fabrica anticorpos: primeiro os do tipo IgA, presente nas vias respiratórias, mucosas e no sistema digestivo, e depois dos tipos IgM (que age na corrente sanguínea) e IgG (molécula mais leve, que consegue penetrar bem nos tecidos e é a mais eficaz das três). Mas a resposta imunológica não se resume a isso. O organismo também produz células B e T, que têm funções cruciais. As células B são as responsáveis por gerar os anticorpos, e as células T atacam o vírus (destruindo células que estejam infectadas por ele). 

Depois que o corpo debela a infecção, os níveis de anticorpos caem naturalmente. Mas as células B e T conservam a chamada “memória imunológica”, com informações sobre o vírus – se a pessoa for reinfectada, elas entram rapidamente em ação contra aquele patógeno. É graças a essas células, B e T, que podemos desenvolver algum grau de imunidade aos vírus que contraímos. (Explicamos melhor na reportagem “Imunidade”, publicada em agosto de 2020.)

No novo estudo, cientistas da Universidade da Califórnia (San Diego) coletaram células T de 30 pessoas. Onze voluntários haviam tido Covid, e os outros 19 haviam sido vacinados – com as vacinas da Pfizer ou da Moderna. Os voluntários que tiveram Covid haviam sido infectados por cepas “clássicas” do coronvírus, no ano passado (isso é importante; você já vai entender o motivo). 

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Em seguida, as células T foram colocadas em contato com quatro variantes do vírus: as cepas B.1.1.7 (descoberta na Inglaterra, e mais transmissível), B.1.351 (da África do Sul, mais transmissível e resistente a anticorpos gerados pelas cepas antigas), CAL.20C (identificada na Califórnia) e P.1 – a variante brasileira, que, assim como a sul-africana, é mais transmissível e resiste a anticorpos “clássicos”, podendo reinfectar quem já teve Covid. 

Resultado: as células T mantiveram sua potência, atacando as novas variantes com a mesma intensidade que confrontaram o vírus original. Veja no quadro abaixo: 

gráfico
Atividade das células T (dos tipos CD4+ e CD8+), de pessoas que tiveram Covid, contra a cepa original do vírus (Wuhan) e as variantes B.1.1.7, B.1.351, P.1 e CAL.20C. Note que os resultados são essencialmente iguais entre todos os subtipos do vírus. (Pre-print/Reprodução)
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Esses gráficos mostram os resultados de quem teve Covid. Mas, entre os voluntários vacinados, o desfecho foi o mesmo: as células T mantiveram sua potência contra as novas cepas do vírus. 

Isso significa que, embora as novas variantes possam reinfectar quem já teve Covid, e também reduzir a eficácia das vacinas, elas não driblam totalmente as defesas do organismo. O vírus mutado pode fugir de anticorpos “antigos”, gerados pela vacinação ou exposição a cepas clássicas do Sars-CoV-2, mas a memória imunológica continua existindo – e atuando. “A resposta das células T pode contribuir para limitar a severidade da Covid-19 induzida por variantes que escapam parcialmente, ou amplamente, de anticorpos neutralizantes”, afirma o estudo. Ou seja: mesmo se não for capaz de evitar a infecção, a memória imunológica pode evitar que a pessoa desenvolva uma forma grave da doença.

Isso não significa, evidentemente, que quem foi vacinado ou já teve Covid seja invulnerável às novas cepas do vírus. Mas indica que as novas variantes, embora piores, não “resetam” totalmente as defesas imunológicas construídas contra o Sars-CoV-2. 

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