Laboratório em Wuhan é a origem “mais provável” do coronavírus, diz documento do governo dos EUA
Relatório do Departamento de Estado enumera "evidências circunstanciais" que apontam para o Instituto de Virologia e para o Centro de Controle de Doenças (CDC) de Wuhan - que fica a menos de 300 metros do mercado onde houve o primeiro surto do vírus
Relatório do Departamento de Estado enumera “evidências circunstanciais” que apontam para o Instituto de Virologia e para o Centro de Controle de Doenças (CDC) de Wuhan – que fica a menos de 300 metros do mercado onde houve o primeiro surto do vírus
O documento, que foi revelado pela ong americana US Right to Know, é um texto de quatro páginas elaborado em 2020 pelo Departamento de Estado – e obtido judicialmente agora, em 2022, por meio da FOIA, a lei de acesso à informação dos EUA.
Ele começa com um resumo. “Não há evidências diretas para provar que um vazamento dos laboratórios de Wuhan causou a pandemia, mas há evidências circunstanciais sugerindo que é o caso.” O documento afirma que “os laboratórios de Wuhan são a [origem] mais provável, mas menos estudada”, pois “todos os outros possíveis lugares de surgimento do vírus se mostraram falsos”.
Em seguida, o texto explora cinco hipóteses. A primeira é a oficial, de que o Sars-CoV-2 veio de algum animal vendido no mercado Huanan, em Wuhan. Mas os americanos apontam que “o primeiro paciente conhecido, que foi diagnosticado em 01/12/2019, não tinha relação com o mercado”, e afirmam que “o mercado não vendia morcegos” (animal que poderia ser a fonte do vírus). Também lembram que bem no começo da pandemia, em 24/1/2020, até cientistas chineses questionaram a tese do mercado.
A segunda hipótese é de que o vírus tenha surgido em outras partes da China, possivelmente na província de Guangdong – isso porque, segundo o Departamento de Estado, “os vírus da SARS [o Sars-CoV-1, de 2002] e o H1N1 são de lá”. Mas os americanos não acreditam nessa possibilidade: “nenhum estudo explicou porque não houve um surto [de Sars-CoV-2] em outras partes da China, a não ser em Wuhan”.
A terceira tese é de que o coronavírus tenha surgido na Itália e/ou nos EUA – algo que chegou a ser dito pela China em 2020. O documento descarta sumariamente essa possibilidade, dizendo apenas: “auto-explicativo”.
O item 4 fala sobre uma origem “desconhecida, a ser determinada por cientistas”. Segundo os americanos, isso seria “uma tática diversionista do CCP [o partido comunista chinês] para blindar a China contra culpabilidade, depois que todas as três [hipóteses] acima não convenceram”. Ou seja: em 2020, os americanos já estavam convencidos de que o coronavírus só poderia ter escapado de um laboratório em Wuhan.
As razões disso são enumeradas no quinto item, que é bem detalhado e ocupa a maior parte do documento. O texto vai examinando fatos que poderiam implicar não só o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), mas também o Centro de Controle de Doenças de Wuhan (WCDC) – que fica a apenas 300 metros de distância do mercado Huanan.
Ele inicia atacando “a obsessão do WCDC e do WIV em coletar e testar uma quantidade maciça de morcegos portadores de vírus”. Em seguida, afirma que os laboratórios dessas instituições não seguiam os procedimentos de segurança adequados (cita até um artigo publicado por cientistas chineses, com críticas a respeito disso, em fevereiro de 2020), que o WIV fazia experiências com coronavírus de morcego “para torná-los facilmente transmissíveis a humanos”, e que admitiu ter criado vírus “quiméricos”, que não existem na natureza.
São os mesmos elementos presentes na reportagem A origem do vírus, publicada pela Super em junho de 2021. A reportagem também apresenta questões que o relatório do Departamento de Estado não menciona, mas são comprovadas por documentos oficiais. Como o fato de que as pesquisas do WIV com coronavírus tinham apoio e financiamento do governo americano. Esse foi o objetivo do projeto 2R01AI110964-06, autorizado em maio de 2014 pelo National Institutes of Health (NIH).
A lei FOIA obriga o governo a liberar documentos considerados de interesse público, mas permite que eles sejam parcial ou totalmente censurados com tarjas pretas antes da divulgação. Isso é bem frequente. Mas, no documento sobre as possíveis origens do Sars-CoV-2, não ocorreu – indicando que o Departamento de Estado não se preocupou em esconder o que pensa a respeito.