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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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O celular está ouvindo as suas conversas? Duas empresas dos EUA dizem que sim

Sabe quando você fala com a pessoa ao lado e aí começam a aparecer propagandas, no seu smartphone, relacionadas a algo que você disse? A hipótese sempre foi considerada um mito, lenda urbana. Mas, agora, duas empresas de marketing digital foram flagradas fazendo isso

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Atualizado em 6 set 2024, 15h33 - Publicado em 18 dez 2023, 16h00

Sabe quando você fala com a pessoa ao lado e aí começam a aparecer propagandas, no seu smartphone, relacionadas a algo que você disse? A hipótese sempre foi considerada um mito, lenda urbana. Mas, agora, duas empresas de marketing digital foram flagradas fazendo isso

Talvez você já tenha vivido isso: após conversar sobre determinado tema, ou usar certas palavras numa conversa, as páginas da internet começam a mostrar propagandas relacionadas àquilo. Mas como? O seu smartphone estava ouvindo, secretamente, o seu papo? As big techs sempre negaram essa prática, que nunca foi comprovada.    

Mas, agora, duas empresas de marketing dos EUA foram pegas fazendo o contrário: elas não só dizem ter a capacidade de ouvir conversas em tempo real, usando o microfone do celular, como oferecem os dados a potenciais anunciantes.  

Os casos foram revelados pelo site americano 404 Media, e causaram espanto. O primeiro deles envolve o Cox Media Group (CMG), conglomerado que é dono de um grande provedor de internet no país, e também oferece serviços de marketing digital – incluindo um chamado Active Listening (“escuta ativa”, em inglês).  

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“É verdade. Os seus dispositivos estão escutando você. Com o Active Listening, o CMG agora pode usar dados de voz para direcionar sua publicidade para as EXATAS pessoas que você procura”, afirmava o site da empresa. 

Captura de tela do site Active Listening do CMG
Trecho de página sobre a tecnologia Active Listening, da empresa Cox Media Group. (404 Media/Reprodução)

Assim que o caso veio à tona, o CMG apagou as páginas que descreviam o tal serviço – mas o 404 Media havia capturado cópias delas usando o serviço Internet Archive, que armazena backups de qualquer documento da internet. 

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“Imagine se você pudesse mirar clientes ou potenciais consumidores que estão usando termos como estes em suas conversas do dia a dia”, afirmava o CMG, para então dar exemplos: 

– Uma minivan seria perfeita pra gente.    

– Tem mofo no teto? 

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– Esse ar-condicionado está quase pifando. 

– Precisamos renegociar o nosso financiamento. 

Depois de capturar as conversas das pessoas, o CMG prometia usar esses dados para customizar anúncios em todas as plataformas online. “O resultado? Uma compreensão sem precedentes do comportamento do consumidor. Nós conseguimos entregar anúncios personalizados que fazem o seu público-alvo pensar: uau, eles devem ler mentes.”

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Em seguida, o CMG faz uma observação meio sinistra. “Isso é lícito? SIM – é totalmente legal que os celulares e outros dispositivos escutem você. Isso porque os consumidores geralmente dão seu consentimento, ao aceitar os termos e condições de atualizações de softwares ou em downloads de apps.”

Sabe aqueles contratos quilométricos e incompreensíveis, que aparecem antes de usar algum serviço online, ou as permissões solicitadas quando você abre um app pela primeira vez? Pois então.

O CMG também afirmava que “o retorno financeiro [do Active Listening] já é impressionante”, sugerindo que a tecnologia estava em uso comercial. Após ser procurada pelo 404 Media, a empresa apagou as páginas e enviou uma resposta meio genérica e truncada, na qual nega ouvir as conversas – mas, ao mesmo tempo, admite a captura delas. 

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“Dados de propaganda baseados em voz e outros dados são coletados por estas plataformas e dispositivos sob os termos e condições fornecidos por estes apps e aceitos por seus usuários”. Quais apps seriam esses, e como a escuta é feita, o CMG não diz.   

Não é o único caso. O 404 Media publicou uma segunda reportagem revelando que outra empresa de marketing, a MindSift, oferecia exatamente a mesma coisa a anunciantes. 

Além de ser mencionado no site da MindSift, o serviço também foi mencionado por um dos fundadores da empresa, Andy Galeshahi, no podcast oficial dela. “Você já falou sobre alguma coisa, e aí viu um anúncio dela? Somos nós. Nós distribuímos essa tecnologia.” 

A MindSift dizia ter acesso aos “microfones de milhões de dispositivos”. Ao ser procurada pelo 404 Media, apagou as páginas com informações a respeito, e não quis dar entrevista. 

Os dois casos apontam que a escuta de conversas é uma prática real, e já está sendo usada pela indústria de publicidade online. É difícil se defender dela, pois os aplicativos que solicitam o uso do microfone muitas vezes também têm razões legítimas para tanto (como permitir a busca por voz). Se você negá-lo, alguns recursos dos apps poderão ficar inoperantes.

Dito isso, talvez seja uma boa ideia checar as permissões dos apps que você tem instalados. No Android, clique em Configurações => Apps, selecione o aplicativo suspeito (em princípio, todos são) e clique em Permissões. No iPhone, clique em Ajustes => Privacidade e segurança e entre no item “Relatório de Privacidade dos Apps”.  

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