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Por Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA)
A Terra é dos insetos, você só vive aqui porque eles deixam. Um blog para despertar a curiosidade de mamíferos que matam mosquitos e correm de abelhas.
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Besouros rola-bosta, essenciais na pecuária, sofrem com ivermectina dada ao gado

Eles têm a função de limpar o cocô do pasto, enterrando junto parasitas perigosos. Mas o vermífugo ministrado aos bois mata esses insetos – e atrapalha a produção.

Por Walter Mesquita Filho
Atualizado em 30 abr 2021, 17h44 - Publicado em 30 abr 2021, 17h41

O texto desta semana é do convidado Walter Mesquita Filho, engenheiro agrônomo e mestre em Entomologia pela Unesp de Ilha Solteira e doutor na mesma área pela ESALQ/USP onde, atualmente, realiza pós-doutorado sobre diversidade de insetos em ambientes agrícolas e naturais.

Os animais são constantemente infectados por lombrigas, carrapatos, piolhos e vários outros parasitas. Eliminar essas espécies maléficas é a função da ivermectina. O fármaco pode ser fornecido ao animal por via oral ou injetado, controlando tanto parasitas internos quanto externos.

Por suas características químicas, a ivermectina é amplamente utilizada como método de controle em diferentes animais, como gatos, cachorros, cavalos e bovinos, e também em humanos. Entre estes, ela foi alçada à fama com a pandemia de covid-19 – passou a ser recomendada para tratamento preventivo da doença, apesar da absoluta falta de comprovação científica. (Entenda melhor o caso nesta reportagem da Super.) 

Voltando ao mundo animal: devido ao tamanho do rebanho nacional – são 214 milhões de cabeças de gado, uma para cada cidadão brasileiro –, o maior uso do fármaco se dá em bovinos. Entretanto, apesar de suas vantagens, a ivermectina possui um ponto negativo: a maior parte da excreção desse medicamento ocorre pelas fezes dos bovinos. 

Por que isso é um problema se as fezes servem justamente para isso? A resposta está nos besouros coprófagos, ou besouros rola-bosta.

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Eles possuem esse nome devido ao fato de se alimentarem de cocô (e, inclusive, crescerem no material fecal). Algumas espécies possuem o hábito de moldar uma bola de fezes e rolarem a dita-cuja para longe do cocô original, para depois colocarem e enterrarem seus ovos nessa esfera cheirosa. 

Enquanto alguns besouros preferem levar sua encomenda de estrume para casa, adultos de outras espécies optam por construir túneis logo abaixo das fezes, levando massa fecal para dentro deles, para lá colocarem seus ovos. Há ainda espécies que colocam seus ovos na própria montanha de cocô, onde ocorrerá o desenvolvimento das larvas até tornarem-se adultas. 

Como bem sabem os pecuaristas, ao fazerem a incorporação da massa fecal ao solo, os rola-bosta promovem a aeração e infiltração de água e ciclagem de nutrientes. Mais importante, muitas das espécies parasitas do gado passam ao menos uma parte de seu desenvolvimento nas fezes depositadas pelos animais. Ao serem enterrados pelos besouros junto com cocô, esses parasitas acabam morrendo. 

Desse modo, os besouros contribuem para o controle biológico das espécies que ameaçam o gado. Esse serviço ecossistêmico (eis o nome técnico) é feito gratuitamente pelos besouros. Se não fosse por eles, não seria viável economicamente produzir carne e leite usando pastos, já que esses insetos são os únicos capazes de removerem rapidamente as fezes. Portanto, quanto mais besouros no pasto, melhor para o gado.

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Aqui começa o problema da ivermectina. Os besouros entram em contato com o fármaco durante sua alimentação e desenvolvimento das larvas. Sabe-se que a quantidade de ivermectina presente nas fezes de animais tratados de acordo com a dose recomendada pelo fabricante leva à morte dos rola-bosta.

Mesmo em doses mais baixas, os besouros expostos a esse medicamento perdem um pouco da capacidade de localizar e enterrar massa fecal, o que reduz seu peso corporal e suas taxas de reprodução. Como consequência, os serviços ecossistêmicos prestados pelos rola-bosta, incluindo o controle biológico dos parasitas dos bovinos, são fortemente impactados, o que pode levar a um aumento de infecções nos animais em decorrência do maior acúmulo de fezes. 

Para piorar, a pastagem demora a crescer no local coberto pelas fezes, e os animais – que não são bobos – não se alimentam em um perímetro de até um metro ao redor do próprio estrume. O resultado é um grande impacto econômico. A medicação acaba prejudicando o gado. 

Pecuaristas estão cientes do valor desses besouros para a criação de bovinos, pois já percebem a diminuição dos insetos em suas pastagens e agora começam a ver acúmulo das fezes no pasto – algo que nunca ocorreu. Houve a tentativa de introduzir um besouro africano mais resistente, mas os cientistas suspeitam que ele possa ter culpa na redução das espécies nativas. Uma disputa malcheirosa intercontinental que será assunto para um próximo artigo escatológico. 

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