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Bzzzzz Por Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) A Terra é dos insetos, você só vive aqui porque eles deixam. Um blog para despertar a curiosidade de mamíferos que matam mosquitos e correm de abelhas.
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Nesta subespécie de abelha, as operárias lutam para ver quem será a próxima rainha

No Dia Mundial da Abelha, entenda como esses insetos se reproduzem – e veja por que uma característica diferente de uma subespécie da África gera um comportamento tão curioso.

Por Kátia Aleixo
Atualizado em 20 Maio 2021, 19h08 - Publicado em 20 Maio 2021, 18h42
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  • A convidada de hoje é Kátia Aleixo, bióloga consultora da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas. 

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    Os machos das abelhas não têm pai. Não por uma questão de abandono ou algo do tipo – é porque esse é o jeito que elas se reproduzem.

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    Vamos pelo começo, explicando a rotina de uma colônia de abelhas melíferas (Apis mellifera) – a mais conhecida, com listras pretas e amarelas, usada para produzir o mel comum nos supermercados. Em uma colônia do tipo, há fêmeas (rainha e operárias) e machos (zangões). A proporção, claro, é díspar: enquanto existe apenas uma rainha, há milhares de operárias – e algumas centenas de zangões.

    A rainha é a única fêmea fértil da colônia. Com o dobro de tamanho em relação às outras, sua função principal é botar ovos, dos quais nascerão novas abelhinhas. E haja ovo: são cerca de 2,5 mil por dia.

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    O que determina se uma fêmea será rainha ou operária é o alimento ingerido durante a fase de larva. Até o terceiro dia, todas as larvas comem geleia real, uma substância super nutritiva produzida pelas glândulas das operárias. A partir do quarto dia, a divisão acontece: as larvas que virarão operárias adotam uma dieta diferente, rica em pólen. Já as rainhas continuam com a dieta especial e vão para as realeiras, um “berço” maior para comportá-las.

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    (Para entender com mais detalhes o processo de escolha da rainha, recomendo a leitura deste texto da Super, escrito pelo biólogo Cristiano Menezes, que também é consultor da A.B.E.L.H.A.)

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    Com cinco dias de vida, a rainha, ainda “virgem”, realiza o chamado voo nupcial. Ali, é o maior oba-oba: em pleno ar, ela copula com vários zangões e volta para a colônia cheia de espermatozoides. Depois, passa o resto de sua vida botando e costuma realizar um outro voo apenas para fundar uma nova colônia. 

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    Sem chá de revelação

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    Há um pulo do gato nessa história. Os espermatozoides não serão usados imediatamente, mas sim ao longo da vida da rainha (que pode durar de quatro a oito anos). É que elas possuem um órgão, a espermateca, que funciona como um banco de sêmen.

    Na hora de botar os ovos, a rainha tem total controle sobre o sexo das larvas. Pois é, nada de chá de revelação com balões azuis e rosas. Para botar abelhas fêmeas, a rainha libera um óvulo e o fertiliza com um espermatozoide guardado na espermateca. Já para botar machos, o canal da espermateca é fechado. O óvulo, então, não é fecundado – e os zangões carregarão apenas os genes da mãe.

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    É por isso que os machos das abelhas não têm pai. Esse processo de gerar um indivíduo a partir de um óvulo não fecundado se chama partenogênese – e acontece também com vespas e formigas. Esses insetos formam a ordem “Hymenoptera”.

    Mas é claro que há exceções, e a abelha que ilustra este texto é uma delas. Hora de conhecer a curiosa Apis mellifera capensis, a abelha-do-Cabo.

    Rinha de operária

    A abelha-do-Cabo é uma subespécie de abelha melífera encontrada apenas em duas províncias ao sul da África do Sul (se você está confuso quanto ao nome dela, basta lembrar que, naquela região, encontra-se também o Cabo da Boa Esperança).

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    “Ora, e o que ela tem de especial?”, você pode estar se perguntando. Acontece que a abelha-do-Cabo é a única subespécie de abelha melífera cujas operárias, assim como a rainha, também são capazes de gerar ovos – que, por sua vez, darão origem a fêmeas.

    Esse fenômeno é chamado de telitoquia. Como consequência, qualquer operária tem a possibilidade de ocupar o lugar da rainha assim que ela morre. Inclusive, quando uma colônia perde sua rainha, as operárias lutam e competem para ser a mãe da próxima rainha.

    É que, normalmente, novas rainhas são escolhidas a partir de larvas da rainha anterior. No caso das abelhas-do-Cabo, como qualquer operária pode dar origem a uma nova fêmea, esse caminho está aberto.

    Em 2020, uma equipe da Universidade de Sidney, na Austrália, descobriu que a telitoquia das abelhas-do-Cabo é causada pela expressão de apenas um único gene (GB45239), presente no cromossomo 11 do inseto. Abelhas têm 32 cromossomos (as haploides, que só têm os genes da mãe, apenas 16); humanos, em comparação, possuem 46. Estudar esse tipo de comportamento é importante para entender até que ponto a reprodução assexuada delas (ou seja, sem precisar de machos) é vantajosa.

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    Forasteiras

    A telitoquia das abelhas-do-Cabo traz também outra consequência. As operárias podem invadir outras colônias para depositar os seus ovos e se aproveitar da nova colônia. Isso já foi observado, por exemplo, com a Apis mellifera scutellata, subespécie conhecida como abelha-africana. Quando isso acontece, as operárias da colônia invadida acabam cuidando da cria das abelhas-do-Cabo parasitas.

    Esse comportamento é chamado de parasitismo social. Das 20 mil espécies de abelhas conhecidas no mundo, apenas 0,5% delas são parasitas sociais. Uma delas é a brasileira uruçu-nordestina (Melipona scutellaris), uma abelha sem ferrão que vive na Mata Atlântica do Nordeste.

    A uruçu-nordestina é uma parasita diferente da sua prima distante sul-africana, mas com um comportamento igualmente curioso. Nessa espécie, novas rainhas nascem todos os dias – as que não são aproveitadas morrem ou são expulsas de casa.

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    A partir daí, as rainhas exiladas podem tentar copular com machos de outras colônias. Daí, podem se arriscar, já fecundadas, em colônias que estejam órfãs, à espera de uma nova rainha. Sucesso.

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