Fernanda De Bastiani usa estatística para entender e combater a covid-19
Essa #MulherCientista usa matemática para avaliar, por exemplo, se a letalidade da doença está relacionada a fatores socioeconômicos locais.
Todo mundo teve um passatempo diferentão quando era criança. Para Fernanda de Bastiani, a diversão era desenhar números no quadro negro com a sua avó. A brincadeira evoluiu para a paixão por matemática no ensino médio, e por estatística na faculdade. Ela fez graduação em Licenciatura em Matemática na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), onde foi bolsista de um projeto de iniciação científica em geoestatistica, na área de estatística espacial.
A estatística espacial é um ramo da matemática que faz a análise de dados levando em conta explicitamente a localização geográfica. Lugares mesmo, como regiões, cidades e estados. Na iniciação científica, Fernanda estudou as aplicações da geoestatística na agricultura de precisão. Com o grupo de pesquisa da Unioeste, ela usou dados de variáveis físicas e químicas do solo para modelar a produtividade da soja e encontrar melhor maneira de aumentar o lucro dos produtores e reduzir o impacto ambiental das plantações.
A pesquisadora foi para o outro lado do Brasil para fazer o mestrado e doutorado em outra instituição de referência em estatística, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela ainda fez doutorado sanduíche na London Metropolitan University, no Reino Unido.
O projeto em que ela trabalha atualmente é sobre a distribuição espacial da covid-19 no estado de Pernambuco. A pesquisa é feita em conjunto com alunos de graduação e pós-graduação da universidade. “A gente vai focar em responder algumas perguntas sobre o que estamos vivendo no estado: onde estão as maiores taxas de incidência, taxas de letalidade, se elas estão relacionadas. Também vamos tentar responder quais variáveis socioeconômicas podem estar relacionadas com essas taxas”, diz a pesquisadora.
Como é de se imaginar, os maiores números de casos de covid-19 aparecem nas cidades mais populosas, mas não necessariamente essas são as regiões de maior incidência da doença (sendo “incidência” o número de casos dividido pela população local).
A letalidade (número de mortes dividido pelo número de casos) também pode ser maior em regiões onde há menos acesso a serviços de saúde ou em bairros com maior índice de pobreza ou analfabetismo.
Os resultados do projeto ainda não estão disponíveis. A partir de agora, Fernanda pretende fazer essa análise estatística com seus alunos da UFPE. Recentemente, a cientista recebeu o prêmio Para Mulheres na Ciência na categoria de Matemática pela pesquisa. A premiação é concedida anualmente pela UNESCO, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e L`Oréal Brasil.