O que é música atonal?
Para entender esse termo, é preciso antes compreender o seu avesso: a música tonal.
É toda aquela que não gira em torno de uma tonalidade musical definida. Para entender esse termo, porém, é preciso compreender antes o seu avesso: a música tonal. Desde 1600, praticamente toda a música ocidental foi feita assim: você decide o “tom” (quando um músico pede para tocar em “dó maior”, ele quer dizer que escolheu o acorde de dó maior como tônica, como o principal), e então todos outros acordes vão orbitar em torno desse, cumprindo suas funções.
Sabe quando uma banda de rock chega ao final de uma música, faz um fuzuê, toca um acorde só por um tempão e então finalmente termina com uma porrada do baterista?
Então: você tem certeza de que a música acabou porque esse acorde, que os músicos chamam de tônica, é o mais estável dentre os acordes usados naquela canção. É o acorde que dá a sensação de alívio; de que você chegou em casa. Há uma atração gravitacional que puxa a música na direção da tônica.
Uma faixa pop comum leva o ouvinte por um passeio: o músico começa na tônica, visita acordes tristes e felizes, acordes mais tensos ou mais relaxados, acordes que imploram para ir para outros acordes, e então volta para a tônica.
Aqui estamos falando, é bom dizer, do papel que um violão ou piano fazem na canção – que é tocar a base, montar o “chassi” de acordes em cima do qual o vocalista vai cantar as notas da melodia. Esse chassi é chamado de harmonia. Toda música tem melodia e harmonia.
Os músicos sabem quais acordes são as paradas certas ao longo desse passeio por causa de uma teoria chamada harmonia funcional. “Funcional” porque cada acorde tem uma função em relação à tônica.
Por exemplo: um acorde dominante cria uma tensão que precisa se resolver na tônica. É como se o ouvinte estivesse dando sopa na beiradinha da piscina e fosse empurrado. Por outro lado, um acorde subdominante é mais estável – ele se afasta da tônica e permanece longe, sem implorar por resolução. É uma pessoa sentada, com os pezinhos na água.
Até aqui estamos no mundo da música tonal.
Só que, no começo do século 20, alguns compositores de vanguarda, associados ao movimento artístico do Modernismo, tentaram fazer com a música algo parecido com o que Picasso fez com a pintura: distorcê-la, desmontá-la, desrespeitar as regras de propósito para ver no que dá. O mais famoso deles foi o alemão Schoenberg.
Schoenberg e os outros membros da chamada Segunda Escola de Viena compuseram peças sem tonalidade definida – sem uma tônica, sem tensões e alívios que giram em torno de um centro gravitacional claro. Isso é, numa acepção mais estrita, o que os especialistas chamam de música atonal.
A música tonal é uma criação europeia pós-Renascimento, que evoluiu devagar a partir da semente deixada pelo grego Pitágoras – o primeiro a entender a matemática por trás das escalas diatônicas (essas escalas são os conjuntos de sete notas musicais que a música tonal do Ocidente usa como matéria-prima para produzir suas melodias e harmonias).
Existiram muitos outros jeitos de compor música antes disso, que partiam de outras escalas – outras seletas de notas. Esses jeitos continuam existindo em outras culturas e etnias. Todas as músicas árabes e indianas, por exemplo, podem ser consideradas “atonais” numa acepção mais ampla da palavra, já que eles não seguem os moldes de tonalidade que conhecemos por aqui.
Pergunta de Jorge Almeida Roger, Osasco, SP.