Por que há dois dias da semana em que não trabalhamos?
Se você gosta da folga no sábado e domingo, agradeça aos cachaceiros do século 19.
Em tese, os brasileiros trabalham seis dias por semana – pela legislação trabalhista, o sábado é considerado dia útil. A CLT prevê uma jornada de até 44 horas semanais: 8 horas por dia de segunda a sexta, mais 4 horas no sábado. Mas também é possível fazer 8 horas e 48 minutos por dia durante a semana, para não precisar trabalhar no sábado.
Só que, na prática, muitas empresas mantêm uma jornada de apenas 40 horas semanais, e consideram o sábado um dia útil não trabalhado. Os domingos e feriados são, de fato, as folgas remuneradas.
Mas por que a semana tem sete dias e, entre eles, o domingo é considerado o dia de folga?
Raízes babilônicas
A semana é uma unidade de medida arbitrária de tempo. O dia, mês e ano têm base em fenômenos naturais: rotação da Terra, ciclos da lua e movimento de translação, respectivamente. Já o agrupamento dos dias em pacotes de sete é resultado de tradições que vieram da Babilônia, cerca de 4 mil anos atrás.
Os babilônios dividiam o ano em períodos de sete dias em homenagem aos sete corpos celestes mais proeminentes a olho nu: os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, além do Sol e da Lua. (Os nomes dos dias da semana, inclusive, foram inspirados nesses astros. Leia mais neste texto).
Acredita-se que essa tradição tenha dado origem ao mito bíblico da criação em sete dias (com o descanso no último, o shabat judeu, que deu nome ao sábado).
Por influência judaico-cristã, o imperador Constantino oficializou a semana de sete dias no calendário romano no ano 321 d.C. – e, recém-convertido ao catolicismo, decretou qual seria o dia de descanso e oração: o dia do Sol, rebatizado para dies Dominica (“dia do Senhor”). Daí o nome “domingo”.
O fato é que a semana de sete dias se espalhou pelo mundo, e hoje é adotada por praticamente todas as culturas. Os países ocidentais, como você sabe, têm maior influência cristã, então mantiveram a folga no domingo mesmo. Na Arábia Saudita, muçulmana, o dia de folga é a sexta. Em Israel, o sábado. E em ambos todo mundo trabalha normalmente no nosso domingo. Mas por que o nosso sábado entrou no balaio dos dias de folga? Essa parte tem menos a ver com religião e mais com os movimentos trabalhistas.
“Santa segunda”
Beleza, domingo é dia de ficar em casa e cultuar a Deus. Mas as pessoas faziam isso mesmo? Você já deve imaginar. Na Inglaterra do século 19, muitos trabalhadores saíam das fábricas no final da tarde do sábado para curtir a noite e o domingo com bebidas e festas. Na segunda-feira, é claro, estavam todos destruídos.
A farra era tanta que os trabalhadores inventaram um feriado religioso chamado “Santa Segunda” – que de santa não tinha nada. Era apenas uma desculpa para ficar em casa se recuperando dos excessos de domingo. Virou uma moda geral que os trabalhadores faltassem ao trabalho no primeiro dia da semana. Tanto é que os teatros e salões de música começaram a agendar seus eventos para esse feriado não oficial.
Alguns patrões concordavam em oferecer metade do sábado de folga, desde que os trabalhadores garantissem que estariam no trabalho na segunda-feira. Sindicatos também faziam pressão para que o expediente fosse encerrado mais cedo no sábado. Os eventos culturais, inclusive, passaram de segunda para sábado à tarde.
Já nos Estados Unidos, algumas empresas passaram a oferecer o sábado inteiro de folga para acomodar os trabalhadores judeus, que dedicam esse dia inteiro à religião. Outras começaram a ver o final de semana como uma oportunidade de estimular o turismo e as compras. No início do século 20, os dois dias de folga se estabeleceram ao redor do mundo – e, consequentemente, os cinco dias trabalhados durante a semana. Mais recentemente, começou-se a estudar a ideia de uma semana de quatro dias, mas essa é outra história.
Fontes: Britannica; The Atlantic; Carlos Eduardo Ambiel, professor de Direito e Processo do Trabalho na FAAP.