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Qual a diferença entre cosmonauta e astronauta?

Na prática, nenhuma.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 5 set 2024, 09h01 - Publicado em 26 fev 2019, 13h48

Os dois termos se referem à mesma profissão. A diferença é geográfica: “cosmonauta” é usado pelos russos; “astronauta”, pela Nasa e as demais agências espaciais (como a Esa, da União Europeia).

As duas denominações têm origem no grego. Respectivamente, são a união de ástron (que significa “estrela”) ou cosmo (o mesmo que “universo”), com nautes (“navegante” ou “marinheiro”). “Astronauta” é a mais antiga. Surgiu no romance ficcional Através do Zodíaco, de Percy Greg, em 1880. Décadas depois, em 1929, a palavra foi empregada com abordagem científica pela primeira vez, aparecendo em um artigo do Jornal da Associação Britânica de Astronomia que discutia desafios de potenciais viagens pelo espaço. Para a Nasa, o termo passou a valer em 1959.

O termo “cosmonauta” (kosmonávt), por sua vez, começou a ser utilizado oficialmente para denominar Iuri Gagarin em 14 de abril de 1961, após o soviético entrar para história como primeiro homem a ir ao espaço. Tudo premeditado: um conselho de especialistas já havia decidido pela adoção do termo para seus exploradores espaciais meses antes do grande evento. Como não poderia deixar de ser quando o assunto é corrida espacial, a opção de nomenclatura tem raízes na Guerra Fria.

À época, Estados Unidos e União Soviética travavam uma competição tecnológica para realizar o próximo feito espacial. Chamar seus astronautas por um nome diferente do utilizado pelo rivais, nesse contexto, era um caminho para reafirmar a identidade soviética. A diferenciação pegou e, até hoje, é feita sempre que alguém faz menção a astronautas do programa espacial russo.

Segundo registros, “cosmonauta” também era popular muito antes da adesão oficial por parte da URSS – e, assim como seu sinônimo mais usado, tem um pezinho na literatura. Atribui-se a criação do termo a Viktor Saparin, autor de ficção científica russo. A palavra teria aparecido em “New Planet”, obra de literatura fantástica publicada por Saparin em 1949. O derivado “cosmonáutica” tem origem ainda mais antiga: um artigo científico de 1935 assinado pelo engenheiro russo-polonês Ary Abramovich Sternfeld.

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A escolha por um prefixo mais amplo (cosmo, que se refere ao universo, ao invés de astro, que remete a estrelas), porém, não teria surgido unicamente da competição com o bloco capitalista. Pesquisadores acreditam que a preferência por “cosmonauta” e a expansão das ideias que culminaram na criação do programa espacial russo também tem relação com uma corrente filosófica muito popular no país nas décadas de 1920 e 1930, chamada “cosmismo”.

Ela foi criada pelo filósofo Nikolai Fedorov no final do século 19 e mesclava doutrinas do catolicismo ortodoxo russo com conceitos como viagens espaciais, colonização de outros planetas, engenharia genética e imortalidade. Sua influência, segundo especialistas, se estendeu à arte, política e tecnologia da URSS. Isso teria ajudado a criar um imaginário entusiasta dos soviéticos em relação ao cosmos, movimentando nomes importantes de pensadores, artistas e cientistas da época. Na lista de nomes dos que contribuiram mais ativamente para espalhar a palavra cosmista está Konstantin Tsiolkovsky, cientista pioneiro no estudo de foguetes e responsável direto pelo desenvolvimento da ciência espacial soviética.

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