Quando começaram a usar gesso na ortopedia?
Confira uma breve história das imobilizações, das bandagens com cera às misturas com amido.

Para responder a essa pergunta, precisamos entender a história das imobilizações – que, na real, funcionam mais ou menos do mesmo jeito há milhares de anos.
No Egito Antigo, uma perna quebrada era tratada com talas e uma técnica de bandagem similar à aplicada nas nas múmias. Já na Grécia, usava-se ataduras melecadas com cera e resina.
Na Idade Média, havia tratamentos parecidos com o método grego, mas com outros materiais, como argila, farinha e clara de ovo. A maçaroca tinha um propósito: permitir que os médicos moldassem o curativo (que, depois, iria secar e endurecer).
Só que as misturas usadas até então demoravam dias para firmar. Isso era um problema particularmente preocupante durante as guerras, em que os médicos do exército não podiam perder tempo enfaixando os (muitos) feridos em combate.
No início do século 19, época em que Napoleão Bonaparte empreendeu uma série de batalhas na Europa, médicos militares começaram a experimentar novos métodos e ingredientes para imobilizar pacientes. Um dos mais difundidos foi o do belga Louis Joseph G. Seutin, que desenvolveu bandagens embebidas em amido.
Em 1839, o francês Lafargue de St. Emilion adicionou à mistura de amido um elemento que era usado há milênios na construção civil, mas que até então não havia sido explorado na medicina: pó de gesso.
O gesso é obtido por meio da desidratação da gipsita, um mineral. Em contato com a água, ele se expande e endurece rapidamente. Diversas sociedades o usaram de diversas formas, como em rebocos de parede e na base de afrescos (aquelas pinturas feitas na parede, típicas de igrejas católicas). O gesso, diga-se, é um dos ingredientes do cimento.
O uso do gesso reduziu o tempo de secagem dos curativos para seis horas. Alguns anos depois, um cirurgião militar holandês chamado Anthonius Mathijsen foi além: usou ataduras com gesso e água e conseguiu que elas endurecessem em poucos minutos.
Mathijsen não foi o único. Na mesma época, o médico russo Nikolay Pirogov, da Academia Médico-Cirúrgica de São Petersburgo, também decidiu testar talas com gesso. Ele teve a ideia ao ver um escultor usando panos molhados com o material.
A técnica rapidamente se espalhou pelo mundo, já que era barata, rápida e eficaz. Por décadas, médicos e enfermeiras tinham que produzir as próprias bandagens usando pó de gesso. Nos anos 1930, na Alemanha, surgiu no mercado as primeiras ataduras que já vem gessadas de fábrica, parecidas com as usadas hoje.
Pergunta de Andressa Rodrigues Moreira, de Pindamonhangaba, São Paulo
Fonte: artigo “Plaster of Paris–Short History of Casting and Injured Limb Immobilization”.