A arte para salvar a natureza
“(…) quando surge um novo meio de produção de linguagem e de comunicação, observa-se uma interessante transição: primeiro o novo meio provoca um impacto sobre as formas e meios mais antigos. Num segundo momento, o meio e as linguagens que podem nascer dentro dele são tomados pelos artistas como objeto de experimentação.” A pesquisadora Lucia Santaella, no livro “Cultura e Artes do Pós-humano, cita Eduardo Kac para descrever a experimentação da arte como algo de vanguarda para a sociedade.
É por meio da arte que se descobrem novas formas de se olhar para um determinado meio – ou assunto. É por causa disso que dois museus se associaram à organização internacional de conservação Rare para levar oito artistas renomados a oito localidades com as biodiversidades ameaçadas segundo a UNESCO.
O projeto Human/Nature (Humano/Natureza, em tradução literal, ou Natureza/Humana, se for brincar com o significado da expressão) levou esses artistas para algumas localidades do mundo para que eles possam mostrar por meio de suas obras a riqueza ambiental que está ameaçada. “Can art inspire conservation? Can conservation inspire art?” (A arte pode inspirar a conservação? A conservação pode inspirar a arte?) é o que questiona o site do projeto.
Mark Dion, Ann Hamilton, Iñigo Manglano-Ovalle, Marcos Ramírez ERRE, Rigo 23, Dario Robleto, Diana Thater, and Xu Bing foram para Brasil, México, África do Sul, Equador, Indonésia, Kenia, China e EUA e Canadá para, com seus olhares, demonstrar o que poderia se perder caso algo não seja mudado em nossa forma de encarar o mundo.
Rigo 23, por exemplo, veio para a cidade de Cananéia, em São Paulo, para entender como viviam algumas comunidades locais, como a Pindoty, de índios guaranis; Quilombola, mais presente em Ivaporunduva e Sapatú; e a Caiçara, de Itacuruçá. Rigo visitou essas regiões em 2005 e voltou mais quatro vezes entre 2006 e 2008.
Lá, conseguiu formar laços com as comunidades e trabalhou colaborativamente para criar duas esculturas usando os materiais tradicionais da região. Juntos, eles construíram réplicas de armas de destruição de massa, como bombas e um submarino nuclear, e os tornaram em celebrações de vida em vez de de morte. A idéia é mostrar que o mundo desenvolvido acaba com os recursos das nações mais pobres para manter um estilo de vida insustentável e, muitas vezes, destrutivo.
As obras criadas viraram exposição no Museu de Arte Contemporânea de São Francisco (EUA) e ficará no Museu de Arte de Berkeley (EUA) de fevereiro a junho de 2009.