Planta que transforma dejetos humanos em água potável entrará em funcionamento no Senegal
Primeiramente: antes de ler este post, deixe de lado qualquer preconceito e cara de nojo que você possa ter esboçado. Pois esta é uma ideia sensacional, que veio da cidade de Seattle, nos Estados Unidos. Uma máquina que, em poucos minutos, transforma dejetos humanos em água potável. E não só isso: em energia também.
A ideia do Omniprocessor – este é o nome da engenhoca – é revolucionar a maneira como o esgoto é tratado em países pobres e evitar a morte de milhões de pessoas, principalmente crianças. Ela foi anunciada em janeiro deste ano, quando Bill Gates contou em seu blog sobre a nova tecnologia e publicamos a notícia no Planeta Sustentável.
O projeto do Omniprocessor foi o ganhador de um concurso, lançado pela Fundação Bill e Melinda Gates*, que desafiou cientistas a desenvolver novas tecnologias para a limpeza da água.
A grande novidade é que a primeira planta de tratamento de esgoto será instalada em Dakar, no Senegal, nos próximos meses. Ela embarcou em navio no mês passado, rumo à África.
A expectativa da Fundação Bill Gates é que haja interesse da iniciativa privada em financiar a instalação de plantas como esta em outros países. Apesar do preço estimado, cerca de 1,5 milhão de dólares, ele é infinitamente inferior ao de grandes usinas de tratamento, que consomem uma quantidade enorme de energia para funcionar.
E como funciona esta tecnologia? Em grandes tubos, o lodo fecal é seco e durante este processo vapor de água é separado das substâncias sólidas. Estas substâncias são incineradas, gerando energia, utilizada para o próprio funcionamento do Omniprocessor. O que sobra dela, pode ser enviado para a rede elétrica da comunidade local. Já o vapor d’água passa por um sistema de limpeza e purificação, transformando o que antes era dejeto, em água potável.
A primeira planta Omniprocessor embarcou em fevereiro para o Senegal, na África
O processador de resíduos tem capacidade para tratar o esgoto de uma comunidade com até 100 mil pessoas. Com esse volume de esgoto, produz 11 mil litros de água potável por dia. Gera ainda outro subproduto: cinzas, que podem ser comercializadas para correção do solo.
Segundo a Unicef, ainda hoje, 1,5 milhão de crianças morrem no mundo devido a complicações provocadas pela diarréia. A grande maioria delas vive em países subdesenvolvidos, onde não há rede de esgoto e saneamento básico e pr isso, a água acaba sendo infectada por dejetos humanos.
Gates ficou empolgadíssimo com a nova tecnologia. “O processador não só manterá dejetos humanos longe da água, mas irá transformar resíduos em uma mercadoria com valor real no mercado”, disse ele ao The Guardian.
Bill Gates provando a água: poucos minutos antes, ela era esgoto
A ideia de utilizar água de reúso para consumo humano não é novidade. No ano passado, Campinas anunciou que usará água de esgoto tratada para abastecer a população da cidade. O grande diferencial do projeto americano é ser uma planta compacta, de baixo custo e sustentável.
*Bill and Melinda Gates Foundation
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Fotos: divulgação