Vozes em extinção
A cada 14 dias uma língua some do mapa em algum canto do mundo. Se mantida essa velocidade, metade das 7 mil línguas ainda sobreviventes estarão extintas em 2010. Muitas delas morrem sem deixar um rastro sequer: nenhuma gravação em CD, LP ou MP3. Nenhuma gramática. Nada! E pior, levam consigo cultura, conhecimentos sobre a natureza, mitos, músicas e história de muitos povos. A pesquisa, financiada pela National Geographic Society, mostra onde estão as regiões mais críticas.
Somente na Nigéria, 500 línguas estão em risco. Na Austrália, são 153 línguas aborígenes severamente ameaçadas. Em julho deste ano, um grupo da National Geographic Enduring Voices foi para lá para conhecer (e registrar) as vozes desses últimos falantes. Foram encontrados números nada animadores: três falantes da Magati Ke (ou Marti Ke) e apenas um da Amurdag (Amarag) – cujo último sobrevivente não usava a língua há 50 anos.
O Brasil também aparece nesse levantamento. Povos que vivem em Rondônia têm a sua língua sob muito alto risco de desaparecer, e outras populações do centro-sul têm alto risco. Em terras tupiniquins, hoje restam apenas 180 línguas indígenas das mais de mil que havia por aqui quando Pedro Álvares Cabral chegou, em 1500. Calcula-se que duas línguas indígenas desapareceram por ano, depois da vinda dos portugueses, seja por causa da extinção de tribos ou pelo desuso das línguas – trocadas pelo idioma do colonizador.
O programa da National Geographic Enduring Voices pretende dar oportunidades para que as línguas que estão caindo em desuso não sumam. Incentivar o aprendizado da línguas pelas crianças das comunidades e a manutenção do uso pelos mais velhos podem ser boas idéias para que o conhecimento continue a ser transmitido de geração em geração. Imagine só que triste uma mãe não poder usar a sua língua para contar estórias para o filho dormir?
FONTE: Folha de S.Paulo