Darth Vader é pai de Luke Skywalker. O Titanic afunda e Jack morre congelado. Norman Bates se veste com as roupas da mãe e é o verdadeiro assassino.
Estragar o final de um filme é fácil. Esses aí já estão enraizados na cultura pop, foram parodiados inúmeras vezes. E uma série? Posso falar detalhes do último episódio de The Americans assim que ele for exibido? Ou é spoiler?
Nós publicamos uma matéria aqui na SUPER durante a sexta temporada de Game of Thrones. O título já entregava: “A volta de Jon Snow é cientificamente possível”. O texto mostrava uma pesquisa feita nos Estados Unidos que conseguiu “ressuscitar” porcos – cientistas descobriram que o sangue não é necessário para manter as células vivas quando o metabolismo está parado.
Quando postamos a matéria no nosso Facebook, um leitor reclamou que o próprio título já tinha um spoiler (e culpou o estagiário, o que, vale lembrar, é feio: os estagiários que trabalham aqui com a gente são brilhantes). A questão é que esse conteúdo foi publicado em 23 de maio, quando o episódio cinco já havia sido exibido (The Door, com a famosa história de origem do Hodor). Jon Snow voltara dos mortos três semanas antes.
Outro leitor respondeu o seguinte:
Essa resposta virou uma piada interna aqui na redação – um dos nossos repórteres não havia assistido nada de Game of Thrones até o final de 2016, e, sempre que ele se incomodava quando comentávamos a série, alguém soltava “agora tem que sentar e esperar a donzela assistir”.
A gente tem cuidado em não entregar nada no título ou na imagem que usamos para ilustrar qualquer matéria. Geralmente, rola até um aviso de spoiler no começo do texto. Mas Game of Thrones é um caso especial, né? Virtualmente todo mundo que curte séries conhece ou acompanha a história. Então, três semanas não parece tempo demais pra comentar uma cena bombástica envolvendo um dos protagonistas.
Fora que é muito difícil fugir dos spoilers. Eu cuido das redes sociais aqui da SUPER, então grande parte do meu dia é dedicada ao Facebook e ao Twitter. No ano passado, logo após a exibição da estreia da atual temporada de The Walking Dead, algum engraçadinho respondeu um tweet nosso dizendo que tal personagem tinha morrido. Eu não tinha visto ainda, e o tweet era sobre um assunto NADA relacionado a zumbis, séries, cultura ou qualquer coisa assim: falávamos sobre astronomia.
Já tinha acontecido antes. No dia da estreia de Star Wars: O Despertar da Força, nosso diretor de redação escreveu sobre o filme – sem spoilers, sem revelar nada da história. Publiquei a matéria no Facebook e, em menos de cinco minutos, um cara escreveu um comentário mencionando ~aquela~ cena envolvendo o Han Solo e o Kylo Ren. Resultado: fui ver o filme (na pré-estreia, sessão da madrugada, junto com os fãs hardcore) já sabendo o que ia acontecer.
Isso não rola só nas redes sociais: o spoiler faz parte da cultura do brasileiro. Se você está esperando na fila do supermercado, é só olhar para o lado – as capas das revistas contam tudo que vai acontecer nos próximos capítulos da sua novela preferida. Não tem como fugir.
A maneira como nós consumimos filmes, séries e outros produtos audiovisuais está mudando de forma radical. Se a Netflix libera a temporada completa de House of Cards na sexta, já podemos falar do season finale no sábado? Ou esperamos até segunda, quando todo mundo teve o final de semana inteiro pra maratonar? E a galera que aproveitou a folga para colocar How to get away with murder em dia? Bom, esse pessoal não vai ver The Good Fight a tempo, então talvez seja melhor aguardarmos mais… Mas não muito, porque já já chegam mais episódios de Veep, e logo depois a última temporada de Orphan Black. Ah, se é última temporada está liberado comentar assim, imediatamente? E aquela série que acabou lá fora, mas nem começou a ser exibida aqui no Brasil? É segredo?
Quando o spoiler deixa de ser spoiler? Os exemplos que eu escrevi lá no começo do texto são antigos, filmes de pelo menos 20 anos atrás. E La La Land? Os 15 minutos finais são incríveis, mas até quando estamos proibidos de falar sobre eles? Durante o Oscar, na premiação de melhor atriz, foi exibido um trecho do finalzinho de Manchester à Beira-Mar. O vídeo celebrava a atuação de Michelle Williams, mas também revelava uma catarse emocional bem importante para a conclusão da história. Era spoiler?
Não tem receita, não tem fórmula, só tem bom senso mesmo. Se a série é inédita, eu tento não comentar detalhes em voz alta pra não atrapalhar meus amigos que ainda não viram – mas, às vezes, escapa… E não dá para esperar para sempre.