8 grandes erros e 1 pequeno acerto do SWU
por Felipe van Deursen, em Itu (SP)
O festival de música SWU (Starts With You), realizado entre os dias 9 e 11 em uma fazenda de Itu (SP), arrastou uma multidão estimada em 165 mil pessoas para conferir dezenas de atrações internacionais e nacionais. No casting, destaque para o brilhante show do Queens of the Stone Age, para a primeira e arrasadora apresentação no país dos americanos do Rage Against the Machine (RATM), pelo primeiro show em São Paulo (tá, quase SP) dos heróis indies Pixies e, pela reunião, pela primeira vez, em 14 anos, de Iggor e Max Cavalera, ex-Sepultura, no mesmo palco no Brasil, com o Cavalera Conspiracy.
O primeiro festival brasileiro nos moldes de grandes festivais britânicos (Glastonbury, Reading) e americanos (Coachella, Lollapalooza) primou, na divulgação, pelo belo discurso da sustentabilidade. A SUPER acompanhou o SWU e constatou que apesar do show de música, na prática, como já se suspeitava, o modo sustentável de viver e consumir escorreu como óleo de cozinha pelo ralo.
Listamos 8 falhas (in)sustentáveis do SWU. Confira:
1 – O caos do transporte
A sinalização na estrada era fraca e confusa. Faltava informação nas faixas e placas indicando para os estacionamentos. Também não ficava claro o que era o tal do “bolsão” (locais afastados da fazenda de onde partiriam ônibus para o evento) e o que era estacionamento de fato, junto ao festival. E, para completar, de nada serviam os tíquetes para a volta aos bolsões: principalmente no primeiro dia, no tumulto após o show do Rage Against the Machine, quando um fila de carros parados por quase 3 horas lotou a estrada estreita de terra da saída da fazenda, os ônibus já não davam mais conta de transportar só quem realmente havia comprado o bilhete.
A bagunça descontrolada não deu lugar a qualquer forma de ordem, seja em forma de trânsito coordenado, filas que funcionam ou um mínimo respeito ao consumidor. E ainda por cima, no primeiro dia, teve gente que andou a pé até a rodovia, correndo sérios riscos de um atropelamento bobo. A imagem dos carros parados em fila, com uma multidão caminhando a passos lerdos, lembrava uma cena de filmes apocalípticos, como O Dia Depois de Amanhã ou Independence Day.
2 – Comida própria? Só no camping
Ninguém entrava com comida própria na área do festival. A organização pode argumentar que isso estava explicitado no site, mas a prática não é comum em festas grandes – ainda mais quando há inclusive campings. Para completar, todos os alimentos que as pessoas levaram eram jogados fora, formando uma pilha admirável de comida desperdiçada. Ao público, restava ter que se alimentar de hambúrgueres e minipizzas caros (R$ 12 o xis-burguer, por exemplo). Comida vegetariana era rara e acabou rápido. Azar de quem não comia carne…
E o problema maior é que, para comer, você precisava antes comprar as fichas…
3 – Fichinhas diárias para usar na área de alimentação
Isso mesmo. Fichas, dessas de quermesse, para comer e beber nas praças de alimentação. E o pior: elas só tinham validade por um dia. Tá que as fichinhas ajudam na organização do caixa, mas o argumento de que elas eram de papel reciclado (sim, elas eram!) é tão caído que nem merece ser estendido. Que se pensasse em algo não tão descartável.
Só que o problema não parava aí. Na hora de comer e beber, é claro, tudo era servido em…
4 – Pratos de isopor e copos de plástico
Ninguém quer se sujar além da conta. Mas um pratinho de isopor é dispensável para comer qualquer gororoba seca e dura. Bastava um guardanapo. Mas não, tudo já vinha servido assim. E a bebida, mesmo em lata, vinha acompanhada de um copo plástico. Sim, plástico. O que mostra que curiosamente os estandes de ONGs e as instalações sustentáveis não serviram de aprendizado para o festival reduzir o lixo. Bom, você poderia pensar em levar sua caneca de estimação, aquela que o acompanha em grandes festas há vários carnavais, correto? Pois é, não. Você não podia entrar com ela, mesmo sendo de plástico. Ameaça à segurança, talvez?
5 – Poucas latas de lixo
Havia alguns pontos de coleta, feitos de material reciclado, e a sinalização era bastante clara dos latões – o que era destinado a dejetos recicláveis e o que não era. Mas isso é um avanço tão pequeno que soa como nada mais que obrigação em um festival que se diz sustentável. Além disso, as latas eram poucas, insuficientes para o público.
Bom, mas também não custava muito segurar a latinha ou o copo até encontrar o lixo mais próximo. Questão de educação.
6 – Fóruns mal divulgados
Havia muita gente interessante para ouvir nos debates sobre minorias, economia sustentável e políticas de meio ambiente. Mesmo depois de uma maratona de 10 horas de shows e um perrengue para sair do festival, havia gente interessada e participando: o espaço dos fóruns, que tinha capacidade para 1000 pessoas, chegou a ficar lotado e com pessoas sentadas no chão em várias palestras. Porém, já que se tratava de um festival verde, as atrações internacionais do fórum mereciam mais destaque. Não que fosse necessário, muito menos coerente (marqueteiramente falando) colocar um pesquisador da USP ao lado do Linkin Park no topo de atrações confirmadas. Mas pelo menos chamar a atenção do público fora da tenda dos fóruns, exibir nos telões o que se falava lá dentro (por mais que a transmissão pela internet estivesse funcionando. Mas quem estava lá na fazenda não era informado do que estava rolando).
Mas será que oferecer debates sobre conscientização no meio de um festival de música em que as pessoas se deslocaram especialmente para ouvir música e ver de perto bandas queridas é o ideal? Pode facilitar o acesso, mas quem realmente se importa vai atrás por outras vias de informação. Ou seja, ela guarda o panfleto da palestra para procurar saber mais sobre determinado assunto quando voltar para casa e estiver sóbrio e descansado.
7 – Excesso de marketing verde
A impressão que se tinha era que a bandeira sustentável do evento servia mais para mostrar as novas políticas dos patrocinadores, o que não deixa de ser legal. É bom saber que agora a Coca-Cola investe mais em embalagens bem menos agressivas ao meio ambiente, por exemplo. Mas faltou incentivar o público a agir. Poderiam dar sacolas retornáveis para guardarem o próprio lixo ou então uma semente para plantarem em um descampado ao lado do festival. Ideias não faltam. Certo, havia a ideia divertida da roda-gigante movida a pedaladas. Aham, senta lá, Claudia, pedala…
8 – Banheiros nos campings
Quem se arriscou a acampar teve que encarar banheiros químicos sem papel, e muitas vezes com muita fila. Para tomar banho, esperava-se até 3 horas. Isso por uma chuveirada supostamente econômica. Só que, convenhamos, 7 minutos de água corrente por pessoa não é lá muito sustentável. Esperto o sr. Maeda, dono da fazenda e pesqueiro onde foi realizado o festival. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, disse que economia de água de verdade é entrar debaixo do chuveiro, molhar-se, desligar a água, limpar-se, ligar a água, enxaguar-se e ponto final.
O (pequeno) acerto: estacionamento caro pode funcionar
Se houve algum ponto positivo na estrutura do transporte, por mais torto que seja o argumento, é o fato de haver um preço exorbitante para guardar o carro para quem fosse com menos de quatro pessoas no carro: R$ 100 nos estacionamentos e R$ 50 nos bolsões. Havendo quatro ou mais pessoas, pagava-se R$ 50 e R$ 30, respectivamente. O preço acabou forçando muita gente a combinar carona. Às vezes é preciso sentir no bolso para mudar o comportamento.