Por Marcel Nadale
1) Mais do mesmo, porém melhor
A trama não difere tanto da do primeiro filme: o casal Warren, especialista em paranormalidade, precisa ajudar uma família que está sendo assombrada por fenômenos inexplicáveis em sua casa. Desta vez, porém, a história se passa na Inglaterra, nos anos 70. O salto no tempo não serve só pra dar um gás na trilha sonora: ele coloca Ed e Lorraine no limite da tolerância. Depois de décadas lidando com o que há de mais sombrio no mundo do além (e com o ceticismo e a perseguição da mídia), eles estão na iminência de se aposentar.
2) A introdução
O filme abre com Ed e Lorraine lidando com um dos mais famosos casos de possessão demoníaca dos EUA – o que ocorreu na cidadezinha de Amityville. É uma delícia de tensão… mas é só um aperitivo. Se dependesse de nós, esse seria o tema do terceiro filme da trilogia!
3) O ritmo
James Wan é um diretor naturalmente talentoso para o terror. Quase todos os sustos programados neste filme funcionam com precisão milimétrica. Mas, mais do que isso, depois de comandar três sucessos de bilheteria no gênero, agora ele está confiante. Praticamente teve carta branca para fazer o que bem queria em Invocação do Mal 2. Isso inclui, por exemplo, um ritmo deliberadamente lento no começo (a história dos Warren só cruza com a da família Hodgson depois de quase uma hora de filme) e várias virtuoses na movimentação da câmera. Muitas delas parecem puro exibicionismo, mas as que dão certo realmente colocam o espectador numa posição privilegiada, tensa, invadindo uma casa que não simplesmente não quer ser invadida.
O Exorcista estabeleceu um dos maiores clichês do gênero: a garotinha misteriosa/maligna. Um contraste entre a pureza da infância e a maldade das forças sobrenaturais. Desde então, outras entraram para o panteão do cinema (como a menininha de Poltergeist, por exemplo, ou a Samara de O Chamado). Mas há tempos não havia uma figura tão perturbadora quanto Janet, a caçula da família Hodgson, que subitamente começa a canalizar um antigo morador do sobrado onde vive.
5) Patrick Wilson
Houve uma época em que Wilson parecia despontar como o próximo grande galã de Hollywood. Uma série de escolhas erradas, aos poucos, foi apagando seu brilho e deixando-o em segundo plano. Mas, em uma das cenas mais mundanas de Invocação do Mal 2, ele precisa de apenas um violão para deixar claro porque Lorraine se apaixonou por Ed – e porque nos apaixonamos pelo magnetismo de Wilson lá na época de Pecados Íntimos (2006). Ele merece bons papeis.
6) Vera Farmiga
Tem sido um bom ano para a atriz. Depois de uma quarta temporada espetacular em Bates Motel, ela arrasa mais uma vez tentando se equilibrar entre as emoções conflitantes despertadas pelo dom paranormal de Lorraine. Para ela, suas visões são, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição. Todo encontro com o inexplicável é, ao mesmo tempo, um ato de fé em Deus e uma prova da existência do demônio. E Vera consegue comunicar, só no olhar, esse misto de vulnerabilidade e poder. Quando passamos duas horas com ela, nos damos conta de como os outros filmes de terror sofrem ao escalarem apenas atrizes em começo de carreira
7) O coração
Wan foi inteligente o suficiente para entender qual o grande diferencial de Invocação do Mal para todos os outros filmes de terror sobrenatural: o fato de seu protagonista ser um casal, devotamente apaixonado. Pode até parecer estranho, mas o segundo filme é, também, um filme profundamente romântico e carinhoso. Mas nada é gratuito: quanto mais investimos na felicidade de Ed e Lorraine, mais medo sentimos diante dos perigos que os esperam. Prepare-se para se sentar na beirada da poltrona durante o clímax.
8) Os créditos
Não vá embora logo após as cenas finais. Os letreiros incluem fotos reais do caso (um dos mais bem-documentados da história) e até mesmo as gravações originais das entrevistas com Janet Hodgson dominada pelo espírito maligno.
…E uma coisa que odiamos
Um dos elementos de terror da trama foi todo feito em animação por computação gráfica. O efeito é bom (e a cena também assusta), mas ele destoa do restante do filme, que parece mais retrô e rústico. Não ornou.
NOTA FINAL: 8,5