O longa de Zack Snyder é, acima de tudo, um filme político que exige desapego. Mas oferece pouco em troca
Por: Victor Bianchin
Eis o plot de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça: Lois Lane (Amy Adams) vai a um deserto do Oriente Médio entrevistar um grupo de supostos terroristas. Devido ao envolvimento de agentes da CIA na operação, ocorre um tumulto e muita gente morre, mas Superman (Henry Cavill) surge para salvar a repórter. De volta a Metropolis, a população está dividida: uma parte considera Super um herói e outra acha que ele traz conflito e destruição. Enquanto isso, Lois investiga se o que ocorreu no deserto é fruto de uma conspiração envolvendo a empresa de Lex Luthor (Jesse Eisenberg).
Se essa parece uma história esquisita para um filme chamado Batman vs. Superman, é porque é. Zack Snyder construiu um filme em que a premissa não é o meio para atingir um fim, mas sim o fim em si. Então os fãs com suas camisetas estampadas com morcegos ou “S” gigantes vão ter que aguentar quase duas horas de trama política no cinema para finalmente poder assistir à briga entre os heróis, que não dura nem 10 minutos.
Se isso é uma falha do roteiro ou uma opção cinematográfica, você é que há de dizer. Mas quem assistir à obra talvez chegue a uma conclusão essencial: a discussão real sobre Batman vs. Superman não é se o filme é bom ou ruim, mas, sim, se é uma experiência de catarse ou não. Porque veja: Batman vs. Superman é um filme de super-heróis, mas não é um filme de quadrinhos. Há pouquíssimo fan service (você não precisa nem ver os letreiros, pois não há cena pós-créditos). O que há é isso: diálogos e conspirações que desaguam em um terceiro ato de porrada – o fato de que são dois personagens icônicos da DC Comics em cena é um mero detalhe. Isso é suficiente, como fã e como espectador, para te fazer feliz?
Independentemente da resposta, porém, o filme tem problemas. O desenvolvimento da trama é lento demais para que o Lex afetado de Eisenberg seja deslumbrante em vez de chato. Há duas sequências idiotas de “era tudo um sonho”. E Lois Lane, contrariando as tintas de fêmea valente com que o roteiro tenta pintá-la, vira uma donzela em perigo que precisa ser salva não uma, não duas, mas três vezes pelo Superman. Ah, e é uma sonsa também: além de se deixar capturar pelo vilão que acaba de denunciar, Lois também quase desperdiça a única chance de os heróis resolverem o conflito final do filme.
Talvez seja por isso que os melhores elementos do longa sejam os menos “desenvolvidos”. O Alfred de Jeremy Irons é certeiro: sarcástico e fleumático sem aporrinhações. E a Mulher Maravilha de Gal Gadot, sem a bagagem política para atrapalhar, brilha bem mais que os protagonistas. Quando veste o uniforme e parte para a luta final, a heroína se mostra mais esperta e com mais recursos do que os homens, e por isso dá prazer torcer por ela. Não se pode dizer o mesmo do Batman de Ben Affleck, por exemplo, um playboy arrogante que não parece, em nenhum momento, com o super-herói das HQs. Quem torceria para um Tony Stark sem senso de humor?
O que Zack Snyder constrói neste filme é uma ode à sua própria maneira de fazer cinema. Ele não quer fazer Vingadores ou X-Men. Ele quer fazer Sob O Domínio do Mal e Birdman. Mas os fãs, há anos, pedem apenas por filmes que sejam leais aos personagens. São duas visões que talvez não casem. Quando as luzes se apagarem no cinema, a briga real não vai ser entre Batman e Superman, mas sim entre o amor de fã e o desapego de público pagante.