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6 ideias que merecem ser espalhadas

Em novembro de 2010, 50 pensadores se reuniram às margens do rio Negro para disseminar o conhecimento. A SUPER estava lá - e agora você verá o melhor do TEDxAmazônia, um evento dedicado a algo tão simples quanto poderoso: boas ideias

Por Natália Garcia
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 5 jan 2011, 22h00

Casal que faz sexo ajuda a família
Imagine um casal que possui filhos e está junto há anos. Qual o elemento capaz de motivá-los a permanecer unidos? Não é sonhar com o futuro das crianças ou planejar a compra de uma casa de praia, diz a bióloga Joan Roughgarden. “O melhor que você pode fazer por sua família é praticar sexo.” A teoria pode causar uma impressão errada numa leitura superficial. Mas o que Joan propõe não é uma abordagem libidinosa na relação entre os casais – e sim a solução para o fortalecimento dos filhos. Marido e mulher, lembre-se, não têm ligação biológica. Apesar disso, precisam se manter juntos por longo tempo para proteger, alimentar e fortalecer as crias. A única maneira de fazer isso, diz Joan, é a construção de uma ligação íntima entre os dois. E sexo é a melhor ferramenta que conhecemos para criá-la. Quando os pais praticam, portanto, quem ganha são os filhos. “Casais que fazem sexo estão construindo a intimidade necessária para manter o núcleo familiar estável”, afirma Joan.

Árvores abastecem rios voadores
Um índio da Amazônia certa vez disse ao cientista Antônio Nobre que, sem as árvores, não choveria mais. Intrigado, ele perguntou ao índio como sabia dessa informação. “Um espírito da floresta nos contou”, foi a resposta. A fala do índio chamou a atenção de Nobre, pois trazia a mesma conclusão a que ele tinha chegado após anos de estudo: há uma relação direta entre matas e chuva. Na sua pesquisa, Nobre descobriu que a transpiração das árvores lança água na atmosfera criando um fenômeno semelhante aos gêiseres, os jatos que jorram da terra: cada árvore dispara, em média, 1 000 litros de água por dia através da transpiração. Juntando toda a floresta Amazônica, a quantidade lançada na atmosfera diariamente chega a 20 bilhões de litros – é mais água do que o rio Amazonas despeja no mar. Toda essa umidade em forma de vapor compõe o que Nobre chama de rios invisíveis. Eles correm pela atmosfera espalhando as chuvas que alimentam os rios, que alimentam as árvores, que criam um ciclo que precisa de todas as partes para existir. Sem floresta, os rios da atmosfera somem e as chuvas ficam escassas. A lógica de derrubada desenfreada das florestas, segundo o pesquisador, transforma a vida dos seres humanos no planeta Terra em uma “improbabilidade estatística”. Sábios são os índios, diz Nobre, que concluíram sozinhos o que ele levou anos de pesquisa científica para saber.

Uma ferramenta para projetar a arte de um grafiteiro imobilizado
Zach Lieberman não é pintor ou escultor, mas faz arte. Sua maneira de se expressar é programando software. E foi assim que ele chegou ao projeto que devolveu ao grafiteiro Tempt1 a habilidade de desenhar.

Tempt1 já foi uma figura relevante da arte de rua em Los Angeles. Isso antes de uma doença fazê-lo perder todos os movimentos e deixá-lo apenas com o controle dos olhos. Quando Zach conheceu Tempt1, o grafiteiro se comunicava por um rastreador do globo ocular que, combinado a um teclado virtual, permitia a Tempt1 escrever. O problema: o aparelho custava US$ 20 mil. Zach, então, decidiu se juntar a outros artistas e programadores para desenvolver uma ideia: permitir ao grafiteiro usar os olhos também para se expressar artisticamente, através de um aparelho econômico. Dois anos depois o Eyewriter ficou pronto – e hoje é vendido por apenas US$ 50. “É como se eu estivesse respirando depois de passar 5 anos debaixo da água”, disse Tempt1 ao usá-lo. Na etapa seguinte, os desenhos foram projetados nas paredes da cidade – e, assim, Tempt1 voltou a grafitar mesmo imobilizado numa cama. “A maneira como alguém se expressa define quem ela é”, diz Zach, “e me emociona devolver isso ao Tempt1 e a outros artistas.”

Ouça o silêncio
A principal ferramenta de trabalho de Gordon Hempton é um microfone que imita o ouvido humano. Tem o formato de uma cabeça e dois sensores no lugar das orelhas. É uma engenhoca muito parecida com a estrutura do corpo humano para captar sons. Mas não idêntica. “Esse microfone ouve melhor do que nós, porque ele não tem o cérebro para atrapalhar o som com suas interpretações”, diz.

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Gordon é um ativista do som. Acredita que o ser humano está perdendo a capacidade de ouvir – algo que percebeu aos 27 anos. Foi durante uma viagem de carro. Ele parou para descansar, saiu do veículo e sentou sob uma árvore. Começou a chover e Gordon teve seu insight: entendeu que, pela primeira vez, estava escutando de fato. Apurou os ouvidos e ali permaneceu horas, atento às centenas de nuances dos sons da natureza. Emocionado com a experiência, decidiu largar o emprego de infectologista de plantas e se dedicar ao que faz até hoje: soundhunter, um “caçador de sons”. Com a ajuda do seu microfone, Gordon se embrenha em florestas pelo mundo para captar sons cada vez mais distantes de quem mora nas cidades. Defende que ouvir nos deixa mais sensíveis ao mundo – e esse é o primeiro passo para despertar o gosto pelo cuidado com o planeta.

É preciso colocar a mão na merda. Literalmente.
É da natureza: quase todo dia você faz cocô. Não tão natural assim é o que você faz com isso: após ser lançado numa privada com água tratada, seu dejeto receberá uma descarga – novamente de água tratada – e será empurrado por um cano até o rio mais próximo. Nessa toada, vão pelo menos 6 litros a cada vez que você senta no trono.

Se essa operação não lhe pareceu incomum, o especialista em permacultura André Soares explica os problemas: 1) estamos usando água de qualidade para empurrar dejetos e 2) nesse processo desperdiçamos um recurso finito, a água, para contaminar o solo e os rios – mesmo que seu cocô seja tratado, ele não será completamente inofensivo para o ambiente. Antes de chegar à solução, porém, é preciso entender do que é feito o problema: 65% de proteínas, 25% de carboidratos e 10% de gordura. “Essa composição parece a da ração humana, última novidade no mundo das dietas”, diz André. O ponto é que, tratadas da maneira correta, fezes podem servir para alimentar o solo em vez de sujar o ambiente.

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A fórmula do milagre são as privadas composteiras – ou privadas secas. Nelas, fezes e urina são armazenadas e misturadas a um material rico em carbono: pode ser pó de serra, capim picado, casca de arroz. A reação entre o carbono e o nitrogênio encontrado nos nossos dejetos gera um composto orgânico e elimina o mau cheiro. Enquanto isso, micro-organismos digerem esse composto e transformam tudo em adubo. “Na natureza, as fezes fazem parte de um ciclo que mantém tudo funcionando perfeitamente”, diz André para defender que compostar e reaproveitar fezes é a maneira mais natural e ecológica de lidar com o problema. “Precisamos perder o medo da merda.”

Dá para mudar a realidade de um bairro miserável
O semiárido é a região mais pobre do Brasil: metade da população recebe menos de um salário mínimo por mês. A mancha de pobreza engole cerca de 1 200 municípios. E um deles é São José das Taperas, em Alagoas, onde fica o bairro de Baixas – um dos mais pobres da região. Foi lá que o engenheiro de pesca José Roberto Fonseca encontrou esses problemas, mas também uma bela oportunidade – gerar prosperidade com uma fórmula simples: água, sol e pimenta.

O primeiro passo foi instalar duas cisternas e um dessalinizador. Com o abastecimento de água, Zobe, como é conhecido, viu que a população poderia plantar sua fonte de renda. Mas não podia ser uma plantação qualquer – a fome era tanta que, se o alimento saísse da terra, os moradores comeriam a lavoura. Daí veio a ideia de cultivar pimenta. As famílias aprenderam técnicas hidropônicas e a utilizar garrafas PET como vasos. Plantaram pimenta-de-cheiro-amarela, dedo-de-moça, malaguetão e refinaram a produção fabricando molhos. Pre­ço mínimo para experimentar a pimenta da Tapera hoje: R$ 5 o po­te. Só faltava levar luz a Baixas, algo que a instalação de painéis de energia solar resolveu. E o bairro miserável virou uma comunidade sustentável.

Para saber mais
www.tedxamazonia.com.br

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