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A fotocopiadora

Em pouco mais de meio século, essa máquinasimples mas eficiente revolucionou os métodos de trabalho e setornou indispensável nos escritórios modernos

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 dez 1988, 22h00

Em 1930, o americano Chester Carlson não tinha nada além de um diploma de bacharel em ciências com especialização em Física, 1400 dólares em dívidas e duas respostas negativas às 82 cartas que havia mandado em busca de emprego. O ano, com certeza, era um dos piores da história dos Estados Unidos. A Depressão, grave crise econômica que começou em 1929, diminuía os salários e aumentava o desemprego a níveis assustadores. Mas o físico de Seattle, que na época tinha apenas 24 anos, era persistente. É fácil entender por quê: desde os 12 anos, o menino magro e desengonçado trabalhava limpando vitrines e varrendo escritórios para sustentar os pais, que sofriam de tuberculose.

Aos 14, conseguiu também um emprego de auxiliar de tipógrafo. No ginásio, passou ainda a acumular a função de ajudante num laboratório de Química, que exercia aos sábados e domingos. Sua jornada era de nada menos de doze horas – das 6 da manhã às 6 da tarde. Mas, afinal, o re-cém-formado conseguiu um emprego no departamento de patentes de uma firma de eletrônica de Nova York. Foi ali que começou a perceber a necessidade de um aparelho que pudesse tirar cópias de documentos de uma forma mais simples do que a utilizada até então. Na época, cópias de textos eram feitas em papel-carbono ou enviadas a firmas especializadas em tirar fotografias do original, um processo de reprodução sempre caro e demorado.

Em vista dessas dificuldades, em 1935 Chester pôs na cabeça que iria inventar uma máquina que funcionasse ao mero toque de um botão. A idéia não teve o que se pode chamar de calorosa acolhida. Já era comum naquele tempo pensar-se que grandes invenções só poderiam surgir em equipados laboratórios universitários ou industriais. Mas o físico não se deixou desencorajar. Foram três anos de trabalho solitário à noite e nos finais de semana. A maior parte do tempo ele passava na Biblioteca Pública de Nova York, em busca de livros especializados. Chester dividia ainda as horas dedicadas à investigação científica com um curso na Faculdade de Direito e o emprego na firma de eletrônica.

Enfim, em 1937, conseguiu patentear um processo, ao qual deu o nome de eletrofotografia, que, teoricamente, poderia reproduzir documentos com certa qualidade. Mas a máquina era ainda apenas um punhado de papéis cheios de anotações. Faltava o principal: construir o aparelho. A tarefa não seria fácil, pois o laboratório de Chester não passava de um armário embutido num apartamento de um único cômodo. Era evidente que ali não havia instrumentos suficientes para a construção do invento. O americano não pensou duas vezes: alugou um quarto no subúrbio de As-toria e investiu todas as economias na compra de uma bancada, placas de metal, resinas, enxofre, produtos químicos e um bico de Bunsen, uma espécie de fogareiro de laboratório.

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Conseguiu ainda contratar um físico, o alemão Otto Kornei, para ajudá-lo nas experiências. Não passou muito tempo até que os dois produzissem naquele quarto pequeno a primeira cópia eletrográfica. “10-22-38 (sugerindo 22 de outubro de 1938) Asto-ria” foram as palavras impressas definitivamente no papel, mediante o processo que Chester tinha proposto um ano antes. O cientista esfregou com um pano de algodão uma placa de zinco revestida de enxofre, de modo que ela ficasse carregada de eletricidade estática – a mesma que faz com que um pente, depois de usado, atraia pedacinhos de papel. Na lâmina de vidro de um microscópio, escreveu com tinta nanquim a data e o local da experiência.

A lâmina então foi encostada à placa e os dois submetidos por alguns segundos à luz de um refletor. Aconteceu o que o físico esperava: os raios de luz dissiparam a carga da chapa, exceto das partes tampadas pelos dizeres. A placa foi então pulverizada com um pó químico de cor preta chamado licopódio, que foi atraído apenas pela parte da placa que permaneceu energizada, deixando-a em evidência. Chester comprimiu então a placa contra uma folha de papel parafinado. Nesta, apareceram os dizeres tingidos pelo pó, que foram depois fixados pela ação do calor. Impressionado, um professor de letras clássicas de Ohío sugeriu que o nome do processo fosse trocado para xerografia, do grego xerox = seco e grafia = escrita.

Chester, animado com o sucesso, começou a procurar financiadores para o invento, além de fabricantes que pudessem produzi-lo em escala industrial. Não havia, porém, ninguém interessado na xerográfica e os desenhos propostos pelo físico não eram satisfatoriamente executados pelas fábricas. De 1939 a 1944, o inventor percorreu mais de vinte companhias, em busca de reconhecimento. Não teve resposta. Finalmente, numa apresentação em Columbus, Ohio. Chester convenceu o Instituto Memorial Battelle a levar o projeto adiante, em troca de 60 por cento dos lucros que pudesse ter com as vendas. Mas as empresas continuavam descrentes – classificavam o invento de grosseiro ou como “algo parecido com um brinquedo”.

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Estaria tudo perdido caso uma pequena firma chamada Companhia Ha-loid, de Rochester, Nova York, não tivesse, enfim, se interessado pela engenhoca. Ela negociou os direitos comerciais da xerográfica e em abril de 1947 Chester recebeu o pagamento inicial a que tinha direito – 2 500 dólares -, embora ainda fossem necessários três anos para que a primeira xerox chegasse ao mercado. O processo era semelhante àquele experimentado tempos antes e que ainda hoje é utilizado. A imagem do original é projetada através de lentes e espelhos sobre um cilindro metálico carregado de eletricidade estática e coberto por uma camada de selênio.

A parte clara do original reflete luz para o cilindro, fazendo com que sua carga seja dissipada. A parte do cilindro referente à imagem escura do original permanece carregada e atrai o tonalizador ou toner – composto que veio a substituir o licopódio, o pó preto usado originalmente -, que por sua vez se prende a uma folha de papel que passa sobre o cilindro. A imagem é fixada por aquecimento e pressão. A Companhia Haloid passou a se chamar Corporação Xerox, hoje a 34ª entre as maiores corporações industriais dos Estados Unidos, segundo a revista Fortune. Em pouco tempo havia copiadoras em todos os escritórios do país – e Chester acabou ficando milionário com os direitos de patente da máquina. Até morrer, em 1968, recebeu royalties referentes à fabricação do produto.

Outros tipos de copiadoras foram desenvolvidos. Nas produzidas originalmente no Japão, por exemplo, o processo básico é o mesmo, com uma única diferença: o tonalizador é líquido, obtido de um derivado de petróleo. Hoje é difícil imaginar uma empresa ou escola ou qualquer instituição, enfim, que não disponha de copiadoras xerográficas. As mais avançadas podem reduzir ou ampliar qualquer documento, reproduzir slides coloridos e operar em alta velocidade. Modelos de última geração utilizam feixes de laser que fazem a leitura do original, indicando as regiões claras e escuras do papel. Ao facilitar enormemente a vida, as copiadoras também ontribuíram para multiplicar as montanhas de papel que cada vez mais parecem sufocar o homem moderno.

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