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A fotografia

Uma técnica nascida em quase por acaso acabou por operar uma das maiores mudanças na comunicação dos tempos modernos e assim inaugurou a era da imagem

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 30 jun 1988, 22h00

Quando desembarcou no Brasil, em 1824, o francês Antoine-Hercules Romuald Florence, que aos 20 anos fazia uma viagem de volta ao mun-do, não poderia imaginar que aqui, longe das facilidades da Europa, acabaria inventando uma técnica que viria a ser uma das mais populares formas de expressão e de registro da realidade: a fotografia. Na verdade, Florence apenas queria desenvolver um método de reprodução gráfica para as notas musicais com que transcrevera os sons dos pássaros estudados por ele durante uma expedição ao interior do país em 1825.

Usando os princípios da câmara escura e as propriedades químicas do nitrato de prata, ainda hoje básicos na reprodução fotográfica, em 1833 Florence conse-guiu uma imagem negativa da vista da janela de sua casa em Vila de São Carlos, atual Campinas. A essa imagem deu o nome de photographie, do grego photos (luz) e graphos (escrita). Florence, comprovadamente, foi o primeiro a usar essa palavra. Mas os princípios técnicos da câmara escura são muito anteriores não só a Florence como também a ou-tros compatriotas seus que, pela mesma época, ensaiavam os primeiros passos da photographie. Sabe-se que, em 1038, um astrônomo árabe observou um eclipse solar de dentro de um quarto fechado, onde abriu um pequeno orifício numa das paredes. Na parede em frente apare-ceu a imagem do eclipse – mas.de cabe-ça para baixo, por causa da direção dos feixes de luz.

O processo seria explicado no século XVI por Leonardo da Vinci. Mais tarde surgiria a pequena caixa fechada, dotada de um orifício no qual se adap-tava uma lente, para melhorar a qualidade da imagem. Em 1727, um professor alemão de Medicina, dado a experiências, de nome Johann Heinrich Schulze, descobriu um fato surpreendente. Ele colocara uma garrafa cheia de cal com nitrato de prata sobre uma mesa. Verificou que o lado da garrafa que estava de frente para uma janela aberta havia escurecido. Não foi bem a garrafa que escureceu, mas o nitrato de prata, que desse modo reage à luz. Quase cem anos se passaram até que a câmara escura e as propriedades foto-químicas do nitrato de prata permitissem a Florence sua proeza. Muito mais tempo correria até que o mundo condesse ao francês residente no Brasíl a ·paternidade da invenção. Até bem recentemente, de fato, atribuía-se a fotografia aos franceses residentes na França Joseph-Nicéphore Niépce e Louis-Jacques Mandé Daguerre. Havia boas razões para isso. O primeiro, inventor e litógrafo de sólida formação científica, produzira em 1826 – portanto sete anos antes de Florence – a primeira fotografia que se conhece. Após uma exposição de aproximadamente oito horas, Niépce conseguiu registrar os telhados e as chaminés vistos de sua casa em Chalon-sur-Saône.

Ele havia posto dentro de uma câmara escura uma chapa de metal, sensibilizada com um tipo de asfalto chamado betume da Judéia. Niépce procurava métodos que melhorassem a precária qualidade da imagem obtida com seu processo quando, em 1827, recebeu uma carta do parisiense Daguerre, que também buscava captar imagens e fixá-las numa chapa. Daguerre propôs a Niépce que trocassem informações. O intercâmbio, porém, duraria pouco, pois Niépce morreu em 1833. Daguerre então aperfeiçoou suas pesquisas até chegar à forma final do que chamou daguerreótipo.

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A máquina consistia numa câmara escura que continha uma chapa sensibilizada com nitrato de prata. Após uma exposição que poderia durar minutos ou horas, a imagem aparecia impressa na chapa. Para fixá-la, utilizava-se vapor de mercúrio. O daguerreótipo foi apresentado à Academia Francesa de Ciências em 1839, causando grande impacto. Em conseqüência, o governo francês acabou por comprar a invenção em troca de uma pensão mensal vitalícia de 6 mil francos – uma bela soma na época. Em pouco tempo, o mundo se encheu de daguerreotipistas que ganhavam o pão de cada dia satisfazendo a vaidade de quem quisesse ter a imagem imortalizada.

A única desvantagem da máquina de Monsieur Dagtierre era a impossibilidade de tirar cópias da imagem fixada. Foi então que, em 1839, o físico in-glês William Henry Fox Talbot desenvolveu o sistema negativo/positivo, usado ainda hoje. Ao contrário de Daguerre, Talbot usava papel, também coberto por uma camada de nitrato de prata. Exposto à luz, dentro de uma câmara, formavam-se no papel concentrações de prata mais escuras onde a luz batia mais forte. O nitrato que fitrava mais claro correspondia às partes mais escuras do objeto fotografado, que não o faziam reagir; o nitrato era eliminado do papel com um banho de hipossulfito de sódio.

Esse era o negativo da foto, que seria então encostado de frente em outro papel sensibilizado com nitrato de prata. Os dois, prensados entre chapas de vidró, eram expostos à luz do sol, que atravessa as partes claras do negativo, escurecendo o positivo e vice-versa. Seguiram-se inúmeras invenções que visavam a melhorar o método de Talbot, como as chapas úmidas de vidro banhadas em colódio, uma espécie de gelatina que fixa os sais de prata. Apesar de produzirem imagens de qualidade surpreendente, as chapas úmidas obrigavam o fotógrafo a prepará-las uma a uma em ambiente escuro, imediatamente antes de fazer a foto. Em 1871 surgiram as chapas secas, preparadas previamente.

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Foi quando o bancário americano George Eastman passou a se interessar por fotografia – algo que teria formidáveis conseqüências e ajudaria a marcar os tempos modernos como a era da imagem. Ele queria tornar a nova arte acessível a todos. Para tanto, começou primeiro a produzir em série as chapas secas de colódio e depois filmes em rolo numa base de celulóide – substância transparente e elástica, criadá a partir da mistura de cânfora e algodão-pólvora, cujas propriedades já eram conhecidas na época. Como ainda não havia equipamen-to que comportasse os tais rolos, o jovem Eastman tratou de inventar um.

Em 1888, a primeira Kodak, como ele chamou o invento, estava no mercado: era de fácil manuseio, portátil, leve e, acima de tudo, econômica. O nome, criado com a intenção de ser facilmente pronunciado em qualquer idioma, reproduzia, além disso, o som do então ruidoso disparador da máquina. Comprava-se a Kodak já equipada com um filme com capacidade para cem fotografias. Quando o filme termi-nava, o fotógrafo devolvia-o ao fabricante, o próprio Eastman, com a máquina e tudo e recebia as fotos revela-das, além de sua Kodak já recarregada com outro rolo para cem fotografias.

As pequenas câmaras, que substituíram os antigos caixotes de quase 100 quilos, conquistaram o mundo inteiro e se incorporaram à vida cotidia-na de centenas de milhões de pessoas. Marcas como a alemã Leica, a Hasselblad sueca, a americana Rolleyflex e a japonesa Nikon tornaram-se sinônimos de câmaras de notável qualidade.

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A cada dia, torna-se mais fácil tirar uma fotografia, graças a máquinas totalmente automáticas, que pou-pam o fotógrafo de quaisquer conhecimentos técnicos; basta ler as instruções e pronto. Toda essa tecnologia, porém, enfrenta um problema: sendo a prata um recurso esgotável, de que serão feitos os filmes do futuro?

A resposta é simples: não haverá filmes no futuro, mas disquetes de computador, do tamanho de uma bolacha, com capacidade para 50 fotos, que gravarão as imagens captadas pela câmara e as reproduzirão imediatamente num papel especial embutido na própria máquina, num processo parecido ao das Polaroid automáticas. Seus inventores são japoneses – que nos dias atuais fazem pela tecnologia da imagem o que os alemães faziam até há bem pouco tempo e os france-ses fizeram no século passado.

Para saber mais: SuperMundo

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